sexta-feira, 20 de abril de 2018


Existencialismo de Heidegger (Filósofo Alemão 1889)


O filósofo alemão Martin Heidegger  é um  pouco complexo nas suas abordagens filosóficas, contudo tentaremos explicá-lo de maneira a mais didática possível.
Martin Heidegger foi membro do partido nazista, um filósofo muito respeitado, cuja principal obra dele é o Ser e o Tempo que vamos analisar aqui algum de seus aspectos filosóficos. No entanto, antes de falar sobre o Ser e o Tempo há pergunta que precisa ser feita: O que é metafísica? A metafísica de Heidegger é diferente do filósofos, tais como: Platão, Aristóteles, Descartes, que basicamente seria aquilo que está distante do mundo físico, aquilo que se encontra no mundo das ideias.

Existencialismo

Às vezes ouvimos a pessoas dizerem  que estão numa crise existencial muito grande. É bem essa a ideia. O existencialismo é uma corrente que trabalha a partir do homem com a sua relação como o mundo, com a sua relação com ele mesmo e com o seu interior. O existencialismo, portanto, se liga muito aos problemas que o homem vive no seu mundo exterior, na sociedade e que o afeta bastante. E aí? Qual é a causa de tudo isso que acontece ao homem enquanto ele vive?
O existencialismo não irá trazer resposta de autoajuda, pois esse tipo de coisa não faz parte da filosofia, mas vai tentar explicar sobre aquilo que torna a vida do homem angustiante. Martin Heidegger é um entre outros filósofos que vai explicar, através de uma abordagem, muito própria, o porquê do tédio e da angustia humana.

Só que agora surge outra pergunta que nos aponta para o pensamento heidergganiano: Por que há algo no lugar do nada? Sobre esta pergunta vamos identificar duas palavras:  

– Ser – é o que precede a existência
Algo – Ente – é o que se apresenta

O Ser precede  a existência e precede o Ente.

Heidegger contraria o entendimento de alguns filósofos que dizem que o Ser é um Ente a mais. Como percebemos ele separa essa ideia. Tais filósofos para ele não entenderam a essência do Ser.
O que é o Ente? É aquilo que se apresenta. Exemplos: o relógio no nosso pulso, a caneta, o homem, a mulher, o gato, o cachorro etc,  tudo aquilo que se apresenta materialmente é o Ente.
Como se estuda o Ente? O ente é estudado de maneira científica. É um estudo ôntico. O ôntico é o existente múltiplo e concreto. Há coisas também que não vemos, mas que interferem nas nossas relações , como humanos, como por exemplo a gravidade.

Um cachorro, enquanto ente. Vamos fazer um estudo científico sobre o cachorro. A gente abre o cachorro e analisamos nele os seus sistemas, fisiologia ( funcionamento dos órgãos). Fazendo assim desvendamos as características do ente.

Ser – A filosofia de Heidegger diz que precisamos nos avizinhar do Ser. Para superarmos uma metafísica tradicional, precisamos nos aproximar de uma metafísica subjetiva. Aquela que eu me aproximo do ser.  Aquela que eu experimento o Ser. Só que este ser é um pouco confuso e difícil de nós encontrarmos.

Se o Ser é aquilo que precede a existência, o Ser tem uma natureza filosófica. A ciência não consegue explicar o Ser, mas a filosofia, sim. Então qual pergunta faria sobre o cachorro? O que esse cachorro está fazendo aí? Esta pergunta é do filósofo e não da ciência.
O estudo do Ser é um estudo ontológico. Nós temos uma necessidade de saber, de compreender o Ser, a sua causa. Mas se perguntarmos e buscarmos através da metafísica de onde veio esse cachorro, qual a resposta que vamos ter? Ele veio do cruzamento de um cachorro e uma cadela. E esses cães que cruzaram, de onde vieram? de um cruzamento de outros cães anteriores a eles. E assim vai até chegarmos em Deus. Na filosofia, de Platão, de Aristóteles, Descartes, vamos encontrar como a origem de tudo, o primeiro motor, Deus. Sendo assim nós estaríamos diante de um estudo onto-teológico que não satisfaz o Heidegger.

Heidegger quer se aproximar do Ser, se avizinhar do Ser. Ele quer viver o Ser, enquanto experiência. Nessa busca de se aproximar do Ser, surge a necessidade da reflexão. Todavia, devemos considerar que a sociedade na qual vivemos é uma sociedade muito voltada para a técnica, muito voltada para a coisificação (res), muito voltada para a manipulação ( o homem manipula tudo a seu favor, inclusive o próprio homem). Esses três exemplos fez do homem muito utilitarista e banido da reflexão.  Isso quer dizer da dificuldade que o homem tem de refletir o ser, de refletir aquilo que está além do ente, aquilo que precede o ente.
Aquelas resposta que procuramos para atender as demandas das crises existenciais no homem estão  no Ser. Contudo, não conseguimos nos aproximar do Ser, isso em razão da capacidade de reflexão do homem está sendo banida, por aquilo que a Escola de Frankfurt vai chamar de razão instrumental, ou seja, a razão que só utilizamos como meio, como instrumento para atingir um determinado resultado. Isso se relaciona coma ideia do utilitarismo.
Heidegger quer superar a ideia da metafísica. Ele quer explicar a existência do Ser, não por meio da existência de Deus, nem de forma científica. Ele quer ir além disso.

Heidegger então percebe que esse utilitarismo faz com que as coisas façam partes de cadeias utilitárias. Exemplo: Para que serve um livro? Qual a utilidade dele? Um livro serve para ler. Para que eu leio? Eu leio para me instruir. Instruir-me para quê? Para trabalhar? Trabalhar para quê? Obseve que a ideia de livro está numa cadeia utilitária. O livro é um ente dentro de uma cadeia utilitária.  Quando a coisa está diante de uma cadeia utilitária essas perguntas não têm fim.
As cadeias utilitárias para o Heidegger que são responsáveis para que exista o tédio que vai contribuir com as crises existências. O Ser desaparece na cadeia utilitária. É um mero ente. Como quebrar essa cadeia utilitária? Quando quebramos, rompemos com  a cadeia utilitária, ainda que seja em segundos, o Ser aparece.

Imaginemos num almoço onde há  muita comida e dentre os vários alimentos expostos,  há também uma travessa de maionese. Um dos convidados, aproveitando a distração de muitos que ali estavam, mergulha um chocolate na maionese. Por que essa pessoa faria isso? Naturalmente, se alguém encontrasse esse chocolate iria perguntar o que ele estaria fazendo dentro da maionese. Se for respondido sobre o chocolate numa cadeia utilitária, será dito que ele é doce, ao leite, saboroso, etc, isso é entediante , porque a resposta está numa cadeia utilitária. Mas ao encontramos um chocolate no fundo de uma travessa de maionese, a cadeia utilitarista foi quebrada.  O chocolate apareceu de uma outra forma. Foi gerada em torno do chocolate uma surpresa. Nesse momento que o chocolate surge no meio da maionese, não percebemos tão somente o Ente, mas alcancei e me avizinhei do Ser.

Cabe aqui a pergunta: Por que há algo no lugar do nada? 
Essa surpresa em identificar o chocolate dentro da maionese nos trará um breve momento de alegria. Ou seja, a busca pelo Ser, a busca pela compreensão do Ser nos traz momentos de alegria e aí conseguimos com essa ideia do tédio. A necessidade que se tem de conhecer o Ente e o Ser é superar a metafísica tradicional e de alguma maneira romper com o tédio que nos gera crises existenciais, nos aproximando do ser.

Heidegger fala também sobre a angústia. Ele declara que se a pessoa não sabe o que veio fazer no mundo, não conseguirá viver de maneira feliz, digna. Isso, em outras palavras gera angústia . A angústia existe porque tudo o que vemos no mundo nos leva a incertezas.  Toda a paisagem que nos parece sempre tem fundos e mais fundos em torno daquela realidade. A vida em si promove muitas inseguranças, além das inseguranças e incertezas ela me traz valores complexos, ficando muito difícil tomar a decisão correta. Muito difícil saber o que é certo ou errado no memento da decisão a ser tomada. Isso nos gera angústia.

A angústia nos segue ao longo da vida e ela está aliada as decisões que precisamos tomar. Todavia há um determinismo do mundo natural. Por exemplo, uma mangueira dará manga e a manga madura irá cair, não tem como ser diferente. É um determinismo. A fruta que caiu está ligada a árvore. Temos aí uma cadeia de dependência.
Já nós seres humanos com o uso do livre arbítrio podemos diminuir a angústia, embora ela sempre vá existir, mas através do livre-arbítrio podemos nos avizinhar do ser, nos aproximarmos dele.

Em 1927 Heidegger lança o seu livro O ser e o Tempo. Neste ele faz umas abordagens interessantes:
O humano enquanto Ser, não como Ente.

O Ser aí – A pessoa nasce coma necessidade de saber onde está pisando. Ou seja o que ele veio fazer no mundo. Essa é uma necessidade que todos nós temos. O Ser aí é uma abordagem reflexiva que vai de encontro com as posições utilitaristas. 

No Ser aí, a pessoa nasce e se questiona procurando um sentido para a sua existência.

O Ser para o outro – Aqui se dá as relações interpessoais nas relações e morais e éticas uns com os os outros.

Ser para a morte – Não há outro caminho para o Ser senão o final de tudo, da sua existência aqui. A morte é a coisa mais concreta e segura que temos no caminhar em direção ao momento derradeiro.  A morte é o mais provável para o Ser, é o mais possível para o Ser.