O mundo é minha representação,” disse Schopenhauer. O que ele queria dizer com isso? Muito provável que ele recorreu a uma distinção do filósofo Kant sobre a coisa em si, o noúmeno e a coisa para si, o fenômeno. Tanto Kant quanto Schopenhauer vão dizer que nenhum ser humano conhece a realidade em si. Não se conhece a realidade como ela é. Todas as coisa que o ser humano conhece está dentro da sua capacidade limitada de conhecer. Nenhum ser humano conhece a estrela central do sistema solar, o Sol em si. Ele é inatingível e inalcançável. Tudo que se conhece são os olhos que veem o Sol. Ou seja, o que é possível se conhecer do Sol. Tudo o que se conhece é em razão das percepções, das ideias, do que a mente humana é capaz de conhecer. Na verdade isso já está na física. Quando o sujeito interage com o objeto, ou seja, com aquilo que ele quer conhecer, o sujeito acaba alterando aquilo que deseja conhecer. De onde se concluiu que não se conhece o mundo em si.
Não se conhece o mundo como ele
é. Não se conhece o noúmeno na
linguagem de Kant.
O ser humano só consegue entender
as coisas dentro das categorias de tempo e espaço. Importante ressaltar, aqui, que o tempo é uma
invenção, uma criação do homem. Então quando o ser humano tenta entender o
mundo, ele, o enquadra dentro da intuição tempo ou da intuição espaço. Então quando
se intui essas coisas do universo, ou tudo aquilo que é em si, elas são alteradas. Se elas são alteradas porque a vida
humana é fenomênica.
Existe as coisas em si, a realidade como ela mesma, e
existe aquilo que o ser humano é capaz de compreender dessa realidade que é a
coisa para si, os fenômenos. O ser humano
vive no mundo dos fenômenos. O ser
humano vive no mundo das representações
e não no mundo em si. Mesmo quando o
homem pensa em si mesmo, ele está representando a si mesmo. O homem não conhece
a sua realidade. O homem é um ser em si.
O homem quando tenta se conhecer, ele só conhece aquilo que ele é capaz de
conhecer de si mesmo. Vivemos das
representações. Só que toda representação humana tem uma origem. Toda representação
tem algo que explica tudo. Algo que é inconsciente. A ideia de inconsciente
surge com Schopenhauer, depois é retomada por Freud. É na inconsciência que a
vida do homem é conduzida. Há algo que é inconsciente que rege as
representações humanas e esse é algo é a vontade.
A Vontade
Qual é o papel da vontade na filosofia de Schopenhauer? Toda
ação humana, todo pensamento humano, todo desejo humano está fora do controle
humano, embora ele pense que está tudo sobre o seu controle, mas não é isso.
Tudo o que se pensa, tudo que leva o homem a fazer se chama vontade. Schopenhauer declarou que “a vontade é um cego robusto que carrega
um aleijado que enxerga.” A consciência humana é esse aleijado guiado pela
vontade, esta que lhe é inconsciente. Vamos lembrar algo declarado por um homem
que viveu no século primeiro da era crista, Paulo, o Apóstolo. Ele declarou que
fazia conscientemente aquilo que não queria fazer, ao dizer: “O bem que quero fazer não faço, mas faço o
mal que não quero.” Fica evidente que a vontade que decidia por ele, não era ele, quem decidia. Schopenhauer compara o ser humano a um salmão
que sobe o rio e mata a si mesmo para se reproduzir. O homem faz coisas que ao
mesmo tempo são boas e ruins. Schopenhauer afirmou que a natureza é terrível
para o individuo e ótima para a espécie humana. Schopenhauer compara até mesmo o casamento ao
salmão. Ele afirmou que o casamento é o martírio da reprodução. O ser humano é guiado por uma vontade
irracional e desprovida de fundamento. No entanto, é esta vontade que guia os
passos humanos. É essa vontade que faz o
ser humano ser o que é. Schopenhauer também vai dizer que falar em vontade de
viver é um pleonasmo. A vontade é a própria essência da vida. Em razão de ela
ser a essência da vida o ser humano sempre estará buscando satisfazer essa
vontade.
A Felicidade
Sendo o ser humano guiado pela
vontade como fica nesse sentido a felicidade? Schopenhauer compara a satisfação
da felicidade como a esmola que se dá para o mendigo. Há uma satisfação naquele
momento, podendo esta satisfação sobreviver por mais um dia. Mas a esmola não o tira daquela condição. Assim
é a felicidade para o ser humano. A vontade é satisfeita, mas nunca será
plenamente satisfeita. O sofrimento será sempre uma realidade para os homens. Sempre
que se busca a satisfação dessa vontade, ela será sempre e continuadamente
passageira e de vez em quando a infelicidade e a tristeza voltará.
Schopenhauer usa de uma metáfora
de um lugar perfeito, onde tudo fosse conseguido com facilidade e sem esforço. Mesmo
assim o homem se sentiria insatisfeito. O desejo humano gerado pela vontade
sente a necessidade de estar constantemente sendo renovado. Isso quer dizer que
o ambiente perfeito traria para o homem o tédio, insatisfação, desespero até
mesmo ‘o desejo ao suicídio.’
Como evitar o sofrimento na compreensão de Schopenhauer?
Se o sofrimento é uma verdade, se
o sofrimento é uma realidade e a satisfação da vontade não é um maneira de aliviar
ou até mesmo impedir o sofrimento, o que deve o homem fazer? Schopenhauer baseado
na tradição budista encontra uma das melhores formas para a dor humana: O
homem, segundo ele, só conseguirá ter uma vida menos infeliz, se aprender a
sufocar os seus desejos. Por sinal isso será para Schopenhauer a verdadeira
ideia de liberdade que é contrária à satisfação de todas as vontades. Pois a
satisfação das vontades, segundo Schopenhauer, conduz o homem ao sofrimento. Liberdade
é aprender a sufocar a sua própria vontade, sendo uma maneira de se tornar
independente dessas coisas. Diz ele:
“È quase sempre preciso que grandes sofrimentos tenham quebrantado a
vontade para que a negação do querer possa produzir.”
A declaração acima do Schopenhauer é muito difícil de concretização, em razão da vontade e desejo humanos serem quase narcísicos, mas não impossível.
A declaração acima do Schopenhauer é muito difícil de concretização, em razão da vontade e desejo humanos serem quase narcísicos, mas não impossível.