sexta-feira, 27 de abril de 2018


Resultado de imagem para schopenhauer                                                                                                   Arthur Schopenhauer
"A vontade é um cego
 robusto que carrega 
um aleijado que enxerga"  


O mundo é minha representação,” disse Schopenhauer.  O que ele queria dizer com isso? Muito provável que ele recorreu a uma distinção do filósofo Kant sobre a coisa em si, o noúmeno e a coisa para si, o fenômeno. Tanto Kant quanto Schopenhauer vão dizer que nenhum ser humano conhece a realidade em si. Não se conhece a realidade como ela é.  Todas as coisa que o ser humano conhece está dentro da sua capacidade limitada de conhecer. Nenhum ser humano conhece a estrela central do sistema solar, o Sol em si. Ele é inatingível e inalcançável. Tudo que se conhece são os olhos que veem o Sol. Ou seja, o que é possível se conhecer do Sol. Tudo o que se conhece é em razão das percepções, das ideias, do que a mente humana é capaz de conhecer. Na verdade isso já está na física. Quando o sujeito interage com o objeto, ou seja, com aquilo que ele quer conhecer, o sujeito acaba alterando aquilo que deseja conhecer.  De onde se concluiu que não se conhece o mundo em si

Não se conhece o mundo como ele é. Não se conhece o noúmeno na linguagem de Kant.
O ser humano só consegue entender as coisas dentro das categorias de tempo e espaço.  Importante ressaltar, aqui, que o tempo é uma invenção, uma criação do homem. Então quando o ser humano tenta entender o mundo, ele, o enquadra dentro da intuição tempo ou da intuição espaço. Então quando se intui essas coisas do universo, ou tudo aquilo que é em si, elas são alteradas. Se elas são alteradas porque a vida humana é fenomênica.

Existe as coisas em si, a realidade como ela mesma, e existe aquilo que o ser humano é capaz de compreender dessa realidade que é a coisa para si, os fenômenos. O ser humano vive no mundo dos fenômenos.  O ser humano vive no mundo das representações e não no mundo em si. Mesmo quando o homem pensa em si mesmo, ele está representando a si mesmo. O homem não conhece a sua realidade. O homem é um ser em si. O homem quando tenta se conhecer, ele só conhece aquilo que ele é capaz de conhecer de si mesmo.  Vivemos das representações. Só que toda representação humana tem uma origem. Toda representação tem algo que explica tudo. Algo que é inconsciente. A ideia de inconsciente surge com Schopenhauer, depois é retomada por Freud. É na inconsciência que a vida do homem é conduzida. Há algo que é inconsciente que rege as representações humanas e esse é algo é a vontade.

A Vontade

Qual é o papel da vontade na filosofia de Schopenhauer? Toda ação humana, todo pensamento humano, todo desejo humano está fora do controle humano, embora ele pense que está tudo sobre o seu controle, mas não é isso. Tudo o que se pensa, tudo que leva o homem a fazer se chama vontade. Schopenhauer declarou que “a vontade é um cego robusto que carrega um aleijado que enxerga.” A consciência humana é esse aleijado guiado pela vontade, esta que lhe é inconsciente. Vamos lembrar algo declarado por um homem que viveu no século primeiro da era crista, Paulo, o Apóstolo. Ele declarou que fazia conscientemente aquilo que não queria fazer, ao dizer: “O bem que quero fazer não faço, mas faço o mal que não quero.” Fica evidente que a vontade que decidia por ele, não era ele, quem decidia.  Schopenhauer compara o ser humano a um salmão que sobe o rio e mata a si mesmo para se reproduzir. O homem faz coisas que ao mesmo tempo são boas e ruins. Schopenhauer afirmou que a natureza é terrível para o individuo e ótima para a espécie humana.  Schopenhauer compara até mesmo o casamento ao salmão. Ele afirmou que o casamento é o martírio da reprodução.  O ser humano é guiado por uma vontade irracional e desprovida de fundamento. No entanto, é esta vontade que guia os passos humanos.  É essa vontade que faz o ser humano ser o que é. Schopenhauer também vai dizer que falar em vontade de viver é um pleonasmo. A vontade é a própria essência da vida. Em razão de ela ser a essência da vida o ser humano sempre estará buscando satisfazer essa vontade.

A Felicidade

Sendo o ser humano guiado pela vontade como fica nesse sentido a felicidade? Schopenhauer compara a satisfação da felicidade como a esmola que se dá para o mendigo. Há uma satisfação naquele momento, podendo esta satisfação sobreviver por mais um dia.  Mas a esmola não o tira daquela condição. Assim é a felicidade para o ser humano. A vontade é satisfeita, mas nunca será plenamente satisfeita. O sofrimento será sempre uma realidade para os homens. Sempre que se busca a satisfação dessa vontade, ela será sempre e continuadamente passageira e de vez em quando a infelicidade e a tristeza voltará.
Schopenhauer usa de uma metáfora de um lugar perfeito, onde tudo fosse conseguido com facilidade e sem esforço. Mesmo assim o homem se sentiria insatisfeito. O desejo humano gerado pela vontade sente a necessidade de estar constantemente sendo renovado. Isso quer dizer que o ambiente perfeito traria para o homem o tédio, insatisfação, desespero até mesmo ‘o desejo ao suicídio.’

Como  evitar o sofrimento na compreensão de Schopenhauer?

Se o sofrimento é uma verdade, se o sofrimento é uma realidade e a satisfação da vontade não é um maneira de aliviar ou até mesmo impedir o sofrimento, o que deve o homem fazer? Schopenhauer baseado na tradição budista encontra uma das melhores formas para a dor humana: O homem, segundo ele, só conseguirá ter uma vida menos infeliz, se aprender a sufocar os seus desejos. Por sinal isso será para Schopenhauer a verdadeira ideia de liberdade que é contrária à satisfação de todas as vontades. Pois a satisfação das vontades, segundo Schopenhauer, conduz o homem ao sofrimento. Liberdade é aprender a sufocar a sua própria vontade, sendo uma maneira de se tornar independente dessas coisas. Diz ele:

“È quase sempre preciso que grandes sofrimentos tenham quebrantado a vontade para que a negação do querer possa produzir.”

A declaração acima do Schopenhauer é muito difícil de concretização, em razão da vontade e desejo humanos serem quase narcísicos, mas não impossível.