quarta-feira, 2 de maio de 2018


Michel Foucault (1926 – 1984)

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Michel Foucault foi um filósofo francês contemporâneo que refletiu profundamente sobre o poder e o conhecimento. Foi um ativista que se envolveu em campanhas contra o racismo. Vários problemas sociais foram alvos de seus estudos, dentre eles, a psicanálise, a psiquiatria, a sexualidade, a escola e o sistema prisional.

A exclusão do discurso            

Alguns aspectos a serem considerados na atividade foucaultiana é que eles vãos se concentrar em três grandes temas: o Interdito da fala, o banimento do discurso do louco e a vontade de verdade.

O interdito da fala

O que seria o interdito da fala? É a interdição de certos discursos através dos discursos normalizados. É bom atentar aqui que o termo normalizado, vem de norma, discurso regrado, limitado ao exprimi-lo. A interdição feita ao discurso tem um alcance muito grande, mesmo que o discurso interditado consiga  expressar críticas a determinadas situações ao discurso normalizado, Foucault tenta através da crítica a tal discurso, denunciar a negação que os discursos normalizados impuseram sobre os discursos interditados. 
O discurso interditado sofre um afastamento do discurso normalizado. Em todos os momentos que o discurso interditado reaparece, ressurge, o discurso normalizado se reforça cada vez mais, mostrando a sua rejeição ao discurso interditado. Seria o mesmo que dizer que a norma estabelecida é a que vigora, rejeitando o discurso que contraria a posição do discurso interditado, proibido. A grande característica do discurso normalizado é a sua posição rígida, contrária à subjetividade do discurso interditado.

O louco e o seu discurso

O banimento do discurso do louco se caracteriza, então, em razão do louco apresentar um discurso muito repetido, persistente e denunciador. Sendo assim,  a única saída que o discurso normalizado encontra é de afastar o discurso do louco e o próprio louco através do isolamento não dando a ele a liberdade de se expressar, lançando-o a um espaço cerceado e inacessível.  Por que isso? O discurso do louco se repete, o discurso do louco é incontrolável e cuja principal característica é o seu aspecto denunciante das verdades estratégicas que foram construídas pelos discursos normalizados. O discurso do louco incomoda o discurso normalizado já formatado e pétreo, porque vai de encontro às verdades estabelecidas pelo discurso que interdita. 

A Vontade de verdade

A característica central da vontade de verdade é que o discurso busca sempre uma construção estratégica de uma verdade. A estratégia serve para reforçar e legitimar o discurso, permitindo um instrumento essencial para a interdição da fala e o banimento de certos discursos. A verdade interditada passa contrariar todos aqueles discursos normalizados que sempre tenta desfazê-la. Se o discurso interditado que é oposto ao normalizado traz um discurso distinto do normalizado ele é de imediato refutado, negado, em razão do não alinhamento. É a partir daí que se entende o que vem a significar o que é vontade de verdade. A vontade de verdade constrói o seu discurso ludibriado, visando sempre legitimá-lo.

A loucura em Foucault

Foucault tenta mostrar na sua história da loucura que a loucura não é um dado biológico, mas um fato de cultura. Se cada época tem uma visão o que é um homem normal e o que é o homem louco à ação dos médicos sobre esses, que eles denominam loucos tem muito a ver a com o seu contexto cultural. O que se entende por normal em épocas diferentes?  Foucault afirma que cada época tem uma visão das coisas de maneira diferente. Nos tempos medievais muitas pessoas que nós os chamaríamos de loucas, se estivessem no atual contexto de vida, com certeza elas seriam medicalizadas, no período medieval tais indivíduos eram líderes. Líderes messiânicos e conduziam multidões. Na Rússia no século XIX essas pessoas que hoje são consideradas loucas eram vistas como aqueles quer tinham  um saber esotérico, um saber diferente, um discurso diferente.
A maneira de se entender o que é um homem louco e um homem racional ganha o seu formato no período renascentista. Todavia, mesmo ainda nesse período a loucura não é vista como algo que deva ser banida, excluída.  A gravura de Hieronymus Bosch “O Navio dos Loucos”.

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Na gravura se percebe que a loucura não é uma coisa ruim.  A loucura é uma das formas da razão.  Ver esta obra e ver outras obras do Renascimento, como o Elogio a Loucura de Erasmo de Rotterdam entenderemos que podemos aprender muito com a loucura e que todos temos algo de louco que nos habita. No Renascimento a loucura era um espelho da sociedade.
A partir do século XVII as coisas começam a mudar. É um período que pode ser nomeado de era cartesiana. O louco nesse período passa a ser visto como aquele que está errado. A razão passa ser idolatrada por ser ela que conduz o homem ao correto, ao certo, então o louco passar ser aquele que não tem direito à verdade. Aqui, então, se percebe que razão e loucura se distam. É neste século que os loucos começam a ser internados em hospitais denominados psiquiátricos. Entre esses loucos eram internados os homossexuais e alcoólatras vistos da mesma maneira, insanos.
Já no século XIX o  entendimento  que se tem sobre a loucura começa a mudar. O louco é visto como um doente. A partir daí é dado a classe médica a capacidade de definir o que é normal e o que é patológico e o dever de trazer o louco para a normalidade. Aqui podemos então retomar o que já foi dito antes sobre o discurso interditado e o discurso normalizado, de onde se conclui que o olhar sobre o louco, sobre a normalização do discurso, depende da época e do contexto cultural em que se vive.

Panóptico

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O Panóptico foi um conceito elaborado por Jeremy Bentham no século XVIII para poder explicar de uma maneira ideal um controle de um poder central sobre uma população a ela subordinada. Seria um lugar onde o controle funcionava de ver sem ser visto, sendo que todas as pessoas que estivessem no em torno dessa estrutura de poder poderiam ser vistas sem ver. Tipo de  modalidade com características de poder absoluto. Foucault baseado na ideia de Bentham vai explicar no seu livro Vigiar e Punir as várias maneiras de ter o controle sobre o outro. E um das considerações é que o ser humano se encontra preso sob o olhar dos outros. Diríamos que as câmeras BBB estão instaladas na realidade social. O homem é um ser sob constante vigilância. E esse poder que é exercido sobre o outro, começa dentro da própria família, ao que Michel Foucault chamará de microfísica do poder. O ser humano sob constante observação é um indivíduo punido, isso em razão de ter os seus passos continuamente vigiados. Tudo é contabilizado e anotado sobre ele, tendo ele cometido alguma falta ou não. O homem é prisioneiro do olhar alheio.  

Escola e prisão

Será que para o prisioneiro ser acostumar na prisão ele teria que passar por uma escola que tivesse um formato igual? Embora a escola seja um lugar de educação, onde os alunos interessados em aprender, adquirirem conhecimentos, Foucault, se manifesta afirmando que o sistema educacional, aprisiona o aluno. Ele não disse que a base da prisão é a escola. Em nenhum momento afirmou isso. Mas que o sistema educacional num todo, apresenta características aprisionadora. Por exemplo: os alunos nas escolas são obrigados a usar uniformes, no presídio também. Os portões das escolas têm cadeados, assim como nos presídios também. Nas escolas também têm grades separando os alunos de alguns lugares restritos, assim também nos presídios.  Nas escolas têm horários separando disciplinas sempre com um tocar de sirenes, nas prisões também têm campainhas para determinados momentos diferentes dos outros. Assim como tem inspetores vigiando os corredores das escolas, há também nas prisões. Na escola tem Diretor, nos presídios também. Embora na escola não tenha solitária, muitas das vezes o aluno tem que ficar solitário em algum local da escola como medida disciplinar ou solitário com o Diretor prestando  satisfação do seu feito indisciplinar. Há alunos que pulam os muros da escola para não assistir as aulas, na  prisão também acontece isso, as chamadas fugas de prisioneiros. Parece que o modelo prisional se assemelha à ideia de escola, todavia a diferença entre a escola e a penitenciária se caracteriza que os presos cometeram delitos, crimes, e na escola a educação deverá sempre contribuir com o desaprisionamento interno de cada aluno na transmissão não só conteudista, mas de valores a serem refletidos à vida como aspectos categoricamente libertadores. Nada neste mundo deverá ser feito sem pensar num resultado que beneficie o outro. A educação na produção do conhecimento é o caminho para fazer homens livres.