Escrever sobre o luto
é algo apaixonante, porque nele podemos perceber, que na ausência do que se
perde há dois sentimentos que se antagonizam o amor e a insatisfação. Nessas
oscilações que conflitam com o nosso subjetivo, manifesta que o ser que amamos
é o aquele que mais nos insatisfaz .Quando amamos uma pessoa, amamos sempre um
ser híbrido, constituída de uma pessoa exterior em nosso convívio e pela sua
presença fantasiada e inconsciente em nós. Como diz Rubem Alves: “Amamos uma
pessoa não por aquilo que ela é, mas pelo manto de fantasia que a cobrimos” Certa
ocasião a namorada falou ao seu namorado e escreveu no talão de cheque dele: “
eu te amo” e outra ocasião ela escreveu em pedaço de papel: “O amor surge de
situações singelas e tão significativas que se perpetuam. Espero que nós dois
estejamos sempre repletos de singelezas” Momentos de expressões e sentimentos
categoricamente sinceros manifestos por ela. Tanto ele quanto ela se amavam.
Numa situação de
muita beleza e esplendor, parecida “Lua de Mel”, distante de tudo e de todos,
os ânimos se acirraram e aí veio o fim. Foi um começo muito lindo e um fim
inadjetivável de dor e sofrimento prolongados em desafetos numa ilha onde o verde da mata e o azul do mar se intercambiavam diante dos olhos.
Um alfa sem ômega, era o amor naquela “Lua de Mel” que de repente tornou virada insatisfação.
Ela diz agora para ele: “ tudo acabou entre nós”. Daí em diante as coisas
ficaram cada vez mais piores, havia uma inconformação de ambos os lados. Cada
um com o seu motivo. Foi algo surreal, extremamente doloroso e de excessivo
desequilíbrio. Ele se desestabilizou por não aceitar o luto. Para manter viva
aquela relação, a luta, o litígio ainda que consciente da gravidade, era
inconsciente da parte dele, o desejo da não orfandade. Contudo, as coisas só
pioraram e tudo morreu, ou seja, houve um fim relacional entre ambos. O
silêncio fúnebre se estabeleceu. Surge então a dor do luto. O que é o luto? O amor
no luto permanece? O luto é manter vivo aquilo que já morreu.
A ressurreição só
existirá à saudade que naquele momento existia! Ou seja o “morto” que não convive mais na
mesma geografia, que vivia com seu ou sua amado (a), retornasse ao mesmo espaço
ou de um ou do outro. No Réveillon deste ano de 2009, numa praia em Cabo Frio,
um jovem disse para mim, que
estava sofrendo muito há dois anos pela ausência da namorada que havia morrido.
Ele afirmou: “Ela dentro de mim está viva porque eu ainda a amo”.
Os
acessos de dor que pontuam o luto são impulsos de um amor tenaz que se recusa a
morrer. O luto sendo a ausência, daquilo que se
perde, não inviabiliza o amor. Toda e qualquer decisão para apagar o luto,
usando de elemento substituível trará frustrações. Pois o amor ainda permanece.
O luto não se apaga
em pouco tempo. Parece que é o que aquele jovem tem evitado, não mascarar o seu
sentimento, dissimulando uma inexistência do passado não conformado e ainda
presente!
Como diz Násio: “a
saudade é uma mistura de amor, dor e gozo: sofro com a ausência do amado e gozo
ao oferecer-lhe a minha dor”.
Freud declara que
“Não se consegue vencer o luto, talvez porque seja verdadeiramente um amor
inconsciente”.“
"Mesmo dolorosa,
a lembrança do nosso amado perdido pode suscitar o gozo de oferecer nossa dor
como homenagem ao desaparecido. Amor, dor e gozo se confundem aqui. Continuar
amando o morto certamente faz sofrer, mas esse sofrimento também acalma, pois
ele faz reviver o/a amado(a) em nós”.