segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Deus, o diabo e o casamento


  



O texto que ora escrevemos tem como finalidade falar sobre o realismo e o romantismo e a relação conflitante existente entre eles. Não se pretende aqui fazer qualquer apologia ao tema, todavia, visa com certeza, conduzir o leitor a uma reflexão de ordem tão somente pessoal na direção de Deus.

O diabo dá o seu pronunciamento, dizendo que no começo de tudo ele estava ao lado de Deus, numa boa, sem reclamações, feliz, tocando e cantando várias canções e entre elas, cantava: “Tô nem aí, to nem aí...”, até o momento que o Senhor da esfera e de tudo que há, se pronunciou dizendo em criar um casal, para povoar a terra. Cada representante dessa união sentiria um sentimento muito forte pelo outro, o amor.

Aí, o diabo se manifestou dizendo: Senhor, Tu és tão poderoso e vai criar uma coisa fraca. O amor é muito frágil e se desgasta com o tempo. O amor não é semelhante ao superbond, ele descola se dissolve e não se prolonga. O amor não acaba no Senhor, mas no homem ele deixa de existir. Tudo é uma questão de tempo.

Disse Deus: primeiro não é bom que nenhum ser humano viva na solidão, não quero o homem sozinho. O amor entre ambos deve ser regado, todos os dias regarão, assim como, quero que eles reguem a terra.  O amor é responsabilidade deles.

O diabo se manifesta outra vez: Senhor, essa coisa de amor é a mesma coisa que ter um pássaro pousado na ponta do dedo. Quem tem esse pássaro no dedo sabe que a qualquer momento ele pode voar. O amor liberta e não aprisiona. Como construir uma união, mediante a possibilidade de voo? Haverá muitas separações, por que viver a ilusão do amor?

Disse o Senhor: Preste atenção! Eu sou o Senhor, quero tão somente o bem deles, a minha felicidade é vê-los feliz e outra coisa, aquilo que o Eu, o Senhor juntar, não separe o homem. Eu, o Senhor menciono a verbo separar  de maneira  subjuntiva, pois sei que há possibilidade deles se separarem. O modo subjuntivo indica dúvida, ele é hipotético, não garante nada. Eu não digo: aquilo que Eu o Senhor juntar o homem não separa, de maneira indicativa. Este modo indica certeza, mas não haverá nenhuma garantia deles viverem assim, por isso a vida deles será subjuntiva. Logo, não me será estranho isso acontecer. Pois após eles pecarem, até mesmo Eu, o Senhor serei acusado pelo homem que chamarei de Adão. Ele me dirá: “a mulher que Tu me deste me fez comer do fruto...”. Observe que entre eles haverá litígios, contendas, dissensões. O meu desejo, a minha vontade que o amor entre eles seja até que a morte os separe e não como dizem que seja infinito enquanto dure.

Disse o diabo: Penso diferente. Simone de Beauvoir filósofa francesa, declarou que a única instituição que mata o amor é o casamento, logo, para que o casamento não morra há uma saída, ainda que vivam de aparência e conveniências, presos as multiformes convenções sociais:  Acredito que se eles viverem se odiando eles terão mais dificuldade de separarem-se. O ódio os unirá. O poeta Guimarães Rosa certa ocasião declarou que quem odeia o outro, o leva para cama. A diferença que há entre o amor e o ódio é que o amor, por causa da liberdade, abre a mão e deixa o outro ir. No amor existe a permanente possibilidade de separação. O ódio segura o casal. Os casamentos mais sólidos são baseados no ódio. E sabe por que o ódio é mais forte que o amor dando estabilidade da vida matrimonial? O ódio não suporta a fantasia do outro voando, contente e feliz. O ódio constrói gaiolas e dentro delas, cada um se nutre da infelicidade que pode causar. Eles ficam juntos para se torturarem. É a suprema felicidade de fazer o outro infeliz.

O diabo fala que a sua separação de Deus, se deu por haver entre eles muitas discordâncias. Ganhou um chute no traseiro e saiu do ambiente glamouroso para ficar mostrando aos casais na terra que a vida é feita de realidade e não de ilusões.
Como músico celestial que era o diabo sugere aos casais, que vão se casar, o toque da marcha nupcial, com a letra que ao autor preparou para lutar contra o mal: “Os guerreiros se preparam para a grande luta...”.

Disse Deus ao diabo: Se depender de você a instituição casamento acaba. Contudo, eu lhe afirmo esta instituição, jamais acabará porque Eu, o Senhor a criei e a família é o meu projeto. Quanto ao amor do casal, a felicidade, ambos terão que fazer a sua parte para viver juntos. Na vida deles eu não me meto, só lhes mostro a minha vontade. Haverá dureza no coração de muitos casais, ou na vida do cônjuge, entretanto, quanto a este aspecto não farei nenhuma imposição. Eles que se resolvam.