terça-feira, 23 de outubro de 2012

CONSIDERAÇÕES LITERÁRIAS SOBRE O ADULTÉRIO





Adultério é uma palavra, que segundo muitos, atualmente soa obsoleta, lembra tempos remotos cintos de castidade e pessoas com poder de propriedade sobre outras. Lembra apedrejamento, infâmia, honra lavada com sangue, atitudes que já não condizem com a época presente em que incesto, nem homossexualismo ou prostituição são tipificados como crimes e em que os avanços da psiquiatria e ciências psicológicas, bem com o respaldo da sociologia dão outras conotações as condutas desviantes. As pessoas hoje clamam por liberdade, naturalmente não como sinônimo de liberdade excessiva ou falta de responsabilidade, mas significando maiores possibilidades de realização pessoal em todos os níveis. Hoje, com o divórcio, já é possível corrigir legalmente erros de ajustes entre cônjuges, e a figura ameaçadora do estigma e infâmia do adultério, principalmente em relação à mulher, pode ser restrita ao âmbito da lei civil.


A citação do livro de Domingos Sávio Brandão Lima, Adultério, a mais infamante causa do divórcio feita por Ester Kosovski, relata sobre o Código de Manu e o seu rigor interpretativo a respeito da infidelidade conjugal:

O Código de Manu, formulado dez séculos após o Código de Hammurabi, considerado o mais rigoroso, até hoje, em relação à mulher, por reputá-la sempre inferior, contém o maior e mais hilariante capítulo minudenciando, em 69 artigos, sobre o adultério. Chegou ao cúmulo de considerar: art 349 – ter pequenos cuidados com uma mulher mandar-lhes florese perfumes, gracejar com ela, tocar nos seus enfeites ou em suas vestes, sentar-se com ela no mesmo leito, são provas de um amor adúltero. Art 350 – Tocar o seio de uma mulher casada ou em outras partes do seu corpo, de uma maneira indecente; deixar-se tocar por ela, são ações resultantes do adultério, com mútuo consentimento.

O adultério teve sua raiz, originada na economia. A mulher era considerada propriedade do homem, assim como os animais. A mulher era coisificada. Ora, quando ela transgredia o voto de fidelidade, ela estava violando o direito de propriedade do seu marido. Quando descoberta ela pagava com a sua própria vida. No texto bíblico do Antigo Testamento, lemos que a mulher era apedrejada até a morte. Um maneira bem primitiva de resolver o assunto, por se tratar que a mulher era vista como objeto, assim com o boi, a vaca, etc.

A escritora mencionada, ilustra com a música popular brasileira Casa de Caboclo de Hekel Tavares, o exemplo do derramamento de sangue, quando é dado o flagrante de adultério:

Vancê ta vendo esta casinha, simplesinha,
Toda branca de sapê...
Diz que ela vive no abandono, não tem dono
E se tem ninguém vê.
Uma roseira cobre a banda da varanda
E tem um pé de cambucá.
Quando o dia se alevanta, virgem santa,
Fica assim de sabiá.
Deixa falá toda essa gente, maldizente,
Bem que tem um moradô.
Sabe quem mora dentro dela?Zé Gazela,
O maió dos cantadô.
Quando Gazela viu Siá-Rita, tão bonita,
Pôs a mão no coração.
Ela pegou não dixe nada, deu risada,
Pondo os óinhos no chão.

E se casaram, mas um dia, que agonia,
Quando em casa ele vortô.
Zé Gazela viu Siá-Rita, tão aflita,
Tava la mane-Sinhô...

Tem duas cruzes entrelaçada, bem na estrada,
E inscrevero pur detrás,
Numa casa de caboco, um é poço,
Dois é bom, três é demais.

O jurista Heleno Cláudio Fragoso cita Francesco Carrara, que diz:

Este é o delito mais fácil de suspeitar-se e mais difícil de provar-se.

O que diz o texto bíblico, através das palavras de Jesus, sobre o adultério?

Ouviste que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração.



Jesus foi bastante incisivo ao afirmar e posicionar o adultério antes da ocorrência do fato. No entanto, é ele que vai trazer sobre o rigor da lei, a desmacaração da mesma, ao declarar que só deveria atirar a primeira pedra quem nunca tivesse sido adúltero. É como se perguntasse, quem nunca adulterou? Sabendo que para adulterar não se faz necessário praticar.Pergunta esta, que continua sendo feita até os dias atuais.

Ester apresenta uma pesquisa literária sobre o adultério, nos romances, escritos por: Gustave Flaubert que escreveu Madame Bovary, Leon tolstoy, cuja obra foi Anna Karenina, Eça de Quiroz, O Primo Basílio, Machado de Assis, Dom Casmurro e o mais antigo de todos que foi o romance do profeta Oséias, escrita pelo próprio. Neste último há algo de especial, porque apesar de um romance, foi um fato de conteúdo profético. Nessas cinco brilhantes obras literárias, encontramos a maneira diferente dos autores tratarem o mesmo assunto. Vejamos o comentário em Adultério, sobre o romance Madame Bovary e Dom Casmurro:

Para com Mme. Bovary, Flaubert tinha aquela atitude que foi mais tarde cunhada pelos psicólogos como “empatia”... E esse fato teve conseqüência; o autor foi processado pela justiça por ultraje moral. É o que pela primeira vez, quiçá, um adultério feminino era não apenas compreendido e justificado, como até mesmo visto com extrema simpatia.
É certo que, no final do romance, Mme. Bovary se mata. Mas não por remorso, absolutamente. Matou-se por endividamento e pela desilusão com os amantes a quem recorreu, em vão, para livrá-la de um processo. “Oh! A morte é coisa bem insignificante! – pensava ela. Vou dormir e tudo terá acabado” (...)


Agora, cabe-nos falar de uma obra de gênio, de um gênio patrício: machado de Assis. Seu “Dom Casmurro” representa um momento culminante da literatura de todos os tempos e de todas as línguas. Aqui, o adultério (jamais completamente explicado) é focalizado pelo ponto de vista de um marido que se suspeita traído, que surpreendeu a mulher a chorar de modo desconsolado diante do cadáver d’aquele que o protagonista desconfia ter sido amante dela, que começa a encontrar na fisionomia do filho os traços do amigo afogado. E Dom Casmurro separa-se de Capitu, da mulher que conheceu desde menina, de quem acompanhou as manobras, as manhas, os disfarces com os quais acabou se impondo à família de Betinho e com ele se casando.
As astúcias de Capitu são as astúcias da mulher que, desde os primeiros anos, na sociedade em que vivia, precisava disfarçar, manobrar, mentir, fingir, para conseguir o que desejava, para se impor como ser humano numa sociedade patriarcal (...)
Somente a sutileza de Machado de Assis soube criar uma tal atmosfera de malícia, suspeita e incerteza. Na verdade ele ra um gênio da sutileza, um artista supremo da ambigüidade. De tosos os romances sobre o “crime” do adultério nenhum como “Dom Casmurro” conseguiu deixar no leitor tal dúvida sobre os fundamentos da suspeita do marido enganado. A figura de Capitu não tem ao que conhecemos nenhum paralelo em qualquer outra literatura.


O segundo capítulo do livro de Oséias encontra-se uma das mais belas declarações da literatura profética, de alguém muito apaixonado:

Cercarei o seu caminho com espinhos, fecharei com uma barreira, para que não encontre suas sendas.. Correrá inutilmente atrás de seus amantes, procurará encontra-los, mas não os encontrará. Então se dirá: retornareis ao meu marido, pois eu era outrora mais feliz do que agora... Por isso, eis que vou seduzi-la, conduzi-la ao deserto e falar-lhe ao coração [palavras de amor].

Nos três livros ligeiramente comentados, sobre o adultério, somente em Machado de Assis e Oséias a protagonista não se mata. No romance do escritor Machado de Assis, Bentinho, o marido, não consegue perdoar, mesmo amando Capitu, mesmo sem certeza de que foi realmente enganado.
Já no livro de Oséias, o marido perdoa a esposa que retorna e a conduz a um lugar ermo e ali reconciliam o amor.

No livro Elogio da Loucura de Erasmo de Rotterdam, lemos:


Ah! Como seriam poucos os matrimônios, se o noivo prudentemente investigasse a vida e os segredos de sua futura cara-metade, que lhe parece o retrato da discrição, da pudicícia e da simplicidade! Ainda menos numerosos seriam os matrimônios duráveis, se os maridos, por interesse, por complacência ou por burrice, não ignorassem a vida secreta de suas esposas. Costumam-se achar isso uma loucura, e com razão; mas é justamente essa loucura que torna o esposo querido da mulher, e a mulher , do esposo, mantendo a paz doméstica e a unidade da família. Corneia-se um marido? Toda a gente ri e o chama de corno, enquanto o bom homem, todo atencioso, fica a consolar a cara-metade, e enxugar com seus ternos beijos as lágrimas fingidas da mulher adúltera. Pois não é melhor ser enganado dessa forma do que roer-se de bílis, fazer barulho, pôr tudo de pernas para o ar, ficar furiosos, abandonando-se a um ciúme funesto e inútil? Afinal de contas, nenhuma sociedade, nenhuma união grata e durável poderia existir na vida, sem a mínima intervenção: o povo não suportaria por muito tempo o príncipe, nem o patrão, o servo, nem a patroa, a criada, nem o professor, o aluno, nem o marido a mulher, nem o hospedeiro o hóspede, nem o senhorio o inquilino, etc., se não se enganassem reciprocamente, não se adulassem, não fossem prudentemente cúmplices, temperando tudo com um grãozinhio de loucura. Não duvido de que tudo o que até agora vos disse vos tenha parecido da máxima importância.


A Psicanalista Regina Navarro Lins faz a seguinte declaração sobre o adultério:

Homens e mulheres flertam se apaixonam e namoram acreditando ter encontrado o ‘verdadeiro amor’, para com ele ficar a vida inteira. No entanto, poucos se contentam com um único parceiro sexual, mesmo enfrentando altos riscos. O adultério sempre foi punido com crueldade pelo mundo afora açoitamento público, decepção do nariz e das orelhas, morte por apedrejamento, fogo, afogamento, etc. Não é incrível que os seres humanos, ainda assim, se envolvam em aventuras extraconjugais? Mas a infidelidade acontece a toda hora, em todos os lugares, com as pessoas comuns e com as famosas. O príncipe Charles e Bill Clinton foram dos mais comentados no final do século passado, mas outros também ocuparam as páginas dos jornais. O ator Anthony Quinn, que faleceu aos 80 anos, foi alvo de um escândalo há cinco anos, quando sua ex-secretária teve um filho seu. Mas o mais infiel de todos parece ter sido mesmo o escritor francês George Simenon. Ele estimou ter feito sexo com mais de 2500 mulheres no decorrer dos seus três casamentos.

E a infidelidade da mulher? Desde a infância foi ensinado a ela que deveria ter relações sexuais apenas com o marido. Isso fez com que se sentisse culpada ao perceber seu desejo sexual por alguém que não fosse ele. A dependência econômica também foi uma motivação importante da tendência monogâmica presente na nossa cultura. O marido jamais admitiria uma infidelidade e dessa forma a mulher não teria como sobreviver. Um flagrante de adultério, por exemplo, faz com que a mulher perca todos os seus direitos.
Com a pílula anticoncepcional e a emancipação feminina as coisas começaram a mudar. O número de mulheres infiéis tem se igualado ao dos homens e o adultério começa cada vez mais cedo para ambos os sexos. Pesquisa realizada na Inglaterra, dirigida às mulheres que trabalham fora, comprova que há pouca diferença entre os sexos no que diz respeito às relações extraconjugais. Dois terços das casadas ou com companheiro estável responderam ter cometido adultério. Na ocasião da entrevista, quase a metade das mulheres confessaram estar envolvidas num caso, e 72% garantiram que era melhor fazer sexo com o amante.
Entretanto, o adultério não é nada simples. O conflito entre o desejo e o medo de transgredir é doloroso. A fidelidade não é natural e sim uma exigência externa; numa relação amorosa estável as cobranças de exclusividade são constantes e aceitas desde o início. Com toda a vigilância que os casais se impõem, a fidelidade conjugal geralmente exige grande esforço quando a pessoa se sente viva sexualmente e não abdicou dessa forma de prazer.
Assim, as restrições que muitos têm o hábito de estabelecer por causa do outro ameaçam bem mais uma relação do que a ‘infidelidade’. Mesmo porque, reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. Quando a fidelidade não é espontânea nem a renúncia gratuita, o preço se torna muito alto e o parceiro que teve excessiva consideração tende a se sentir credor de uma gratidão especial, a se considerar vítima, a se tornar intolerante, inviabilizando a própria relação.


Concordamos com a psicanalista Regina Navarro Lins, quando esta afirma que reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. E aí? Deixa fluir? Onde ficam os valores? O ideal de vida seria a sua anormatização? E os valores éticos e morais, onde ficam?
Nem a moral cristã, nem a de Cristo são contrárias aos axiomas do princípio, fundamentados num Deus que nunca se opôs ao prazer (Ele é o autor), mas o oposto não geraria anarquisação desse prazer? No entanto, tentando evitar qualquer manifestação hipócrita, não negamos a possibilidade do fato. Todos estamos sujeitos a buscar uma experiência nova, por haver a possibilidade de erros no percurso. Por que razão? Nem sempre o objeto do nosso desejo é o que realmente desejamos constantemente. Às vezes nos encontramos desejosos e desejando, sem saber o por quê.
Temos momentos de insatisfação com a vida e com quem nos relacionamos. Desejamos o que, se não queremos desejar? Fazemos o que não queremos fazer? Será isso verdade?
O poeta Fernando Pessoa percebeu em sua própria vida, que é um eterno insatisfeito ainda que completo, ao afirmar:

Por mais rosas e lírios que me dês/ eu nunca acharei bastante/ Faltar-me-á qualquer coisa, / sobrar-me-á sempre o que desejar...

O autor do livro O que é religião, diz-nos que,

O homem é um ser de desejo. Desejo é sintoma de privação, de ausência.

O adultério nem sempre é ausência de amor para com o outro cônjuge. Pode ser ausência de outros fatores, que teve força voraz, impelindo o cônjuge tornar-se fiel ao seu próprio sentimento, sendo que essa fidelidade é adúlterio para com cônjuge ofendido.
No livro de Juan Guillermo Droguett Desejo de Deus. Diálogo entre psicanálise e fé, lemos no prefácio elaborado por Rubem Alves:

...amamos uma pessoa não por aquilo que ela é, mas pelo manto de fantasia com que a cobrimos.

Se tirarmos o manto, encontraremos a realidade do amor idealizado? Nós amamos o nosso ideal, que gostaríamos de ver na pessoa com a qual nos relacionamos? No entanto, o tempo evidencia a frustração que há entre o ideal e o real? Aí a relação idealizada para ser estável, torna-se cansativa, exigindo a não rotina para evitar o enfado do convívio? Há uma urgência de encontrarmos uma nova forma de entendermos melhor o amor? Este precisa contextualizar-se. Ler I Corintios 13 é uma coisa, entendê-lo e aplicá-lo dentro do modelo capitalista que vivemos é outra coisa. “Eu te amo porque você tem grana?”Lemos no texto, ora mencionado, que o amor substantivo que poeticamente foi escrito pelo apostolo Paulo, não acaba( v.8). No entanto, o amor relacional, este sim acaba. Ler um texto que fale sobre o amor, sem levar em consideração os motivos da sua poesia, focalizando as questões sociais, políticas, econômicas e de ideologia religiosa da época, torna-se vazio e com aplicabilidade ilusória. Não podemos nos negar que o amor é processual, isto é, ele deve ser interpretado com o tempo. O amor no período patriarcal não é o mesmo do período do romantismo e não é o mesmo nos dias atuais. Hoje o amor é uma ideologia? Sabemos que o objeto que dá prazer é muitas das vezes o que frusta. No entanto, acreditamos que o amor deve ser regado, assim como um a planta. Mas devemos considerar que água na toneira pode acabar e o balde ficar furado. A relação amoroza duradoura se evidencia da maneira com ela é tratada. Contudo, o único amor que a bíblia nos apresenta e cremos que este não espera nada do outro, por isso, não é ideologizado é o amor de Deus, este não tem fronteiras nem impedimentos, este não faz acepções, porém muito difícil de ser entendido, quando analisamos as suas manifestações nos textos bíblicos. O amor de Deus transcende a nossa capacidade de entender. A grande prova desse amor foi manifesto em Seu filho Jesus, submetendo-o ao mais terrível dos sofrimentos e humilhação, a favor de muitos (Atos 4.27,28), isso tudo por amor. Aqui não há ideologia, mas justiça que não se desvincula do amor, impossível de ser alcançado pelo homem.

O amor não faz mais do que a justiça exige, todavia, o amor é o princípio máximo de justiça. O amor reúne, a justiça preserva o que está para ser unido. Esta é a forma na qual e através da qual o amor realiza sua obra. A justiça, em seu significado máximo, é justiça criativa é a forma de reunião do amor (Amor, Poder e Justiça – Paul Tillich).

Parece ser impossível amar a Deus como diz o mandamento, assim como, amar o nosso próximo como a nós mesmos. Estamos muito longe dessas realizações. Será que temos realmente o desejo de amar o outro ou amar o amor? E o que é o amor? Como ele se apresenta na historia da humanidade. No período patriarcal o amor se apresenta como um imperativo, ordem, mandamento. Já no período romântico ele é algo mais narcísico. Ama-se o amor que se quer amar. Eu me amo no outro

O movimento maniqueísta, cujo nome se originou do profeta persa Manes, foi uma das mais poderosas dentre as primeiras religiões. Na Europa foi chamado de cartarismo, pois seus seguidores se autodominam ‘cátaros puros` (...) Os cátaros acreditavam que o amor verdadeiro era adoracao de uma mulher redentora, uma mediadora entre Deus e o homem (...) O amor humano entre marido e mulher, assim como qualquer sexualidade aí contida eram vistos como bestiais e não espirituais (...) De qualquer forma, o ideal do amor cortês espalhou-se rapidamente pelas cortes feudais de toda a Europa medieval e transformou o comportamento de homens e mulheres em relação ao amor, afinidade, sentimentos elevados, experiência espiritual e ânsia de beleza. Essa revolução amadureceu, dando origem ao que chamamos de romantismos.
O romantismo, por sua vez, também transformou o comportamento dos homens frente às mulheres, mas deixou uma estranha divisão nos sentimentos. Por um lado, os ocidentais passaram a ver a mulher como a encarnação de tudo o que era puro, sagrado e completo. Mas, por outro, ainda submetidos `mentalidade patriarcal, os homens continuaram vendo a mulher como inferior, veiculo do sentimentalismo, da irracionalidade e da apatia (...)
Em época relativamente recente, após a Revolução Francesa e a industrialização, surgiu a idéia de que o casamento deve ser o resultado do amor romântico. Hoje, quase todas as pessoas misturam romance com sexo e casamento como se fosse natural, sem ter idéia de que é uma inovação revolucionaria.

Ainda Navarros, agora ao comentar, Elizabeth Badinter , declara que,

o amor romantico não é apenas uma forma de amor, mas todo um conjunto psicológico – uma combinação de ideais, crenças, atitudes e expectativas. Essas idéias, crenças, atitudes e expectativas. Essas idéias coexistem no inconsciente das pessoas e dominam seus comportamentos e reações. Inconscientemente, predetermina-se como se deve sentir e como reagir (...). Estamos presos à crença de que o amor romântico é o amor verdadeiro. Isso gera muita infelicidade e frustração na vida das pessoas, impedindo-as de experimentar uma relação amorosa autêntica... quando percebemos que o outro é um ser humano e não a personificação de nossas fantasias, nos ressentimos e reagimos como se estivesse ocorrido uma desgraça. Geralmente culpamos o outro. O que ninguém pensa é que somos nós que precisamos modificar nossas próprias atitudes inconscientes, as expectativas que alimentamos e as exigências que impomos aos nossos relacionamentos (...) Como na historia de Tristão e Isolda (...) o amor morre ou, mais comumente, os dois amantes morrem (nos braços um do outro, de preferência) e são cristalizados para sempre naquele estado apaixonado. Por quë? Porque é a única maneira de garantir que ele continue para sempre. Por que você acha que os contos de fada sempre terminam com “e viveram felizes para sempre”? Eles terminam desse modo porque precisam. E precisam porque a historia do amor verdadeiro e a do amor romântico são diferentes.


Afirma Regina, que a monogamia surgiu em virtude da dependência econômica da mulher em relação ao seu marido. Um comportamento extraconjugal da mulher, o envolveria em riscos, se descoberta, esta não poderia se sustentar.
Declaramos então, que sendo assim, foi dado lugar a sublimação, desvio de foco para outro momento. Contudo, a sublimação não permanecerá por muito tempo, porque ela desvia uma realidade subjetiva, que subjetivamente ou objetivamente será respondida.
Um pregador perguntou a igreja onde estava predicando, se existia alguém ali que nunca tivesse cometido adultério. Adultério tanto subjetivo como objetivo. Ninguém respondeu nada. Esse palestrante ficou silente por alguns minutos, olhando a platéia e disse. `Eu também não posso falar nada.`


A fidelidade é um imperativo externo, assim como os mandamentos.


A fidelidade se situa no sentimento, logo, qualquer mandamento, que obriga a alguém ser fiel, surge de fora, como expressa a palavra MANDAMENTO. Sendo assim, a fidelidade forçada pelos imperativos morais e religiosos, antagonizam com a realidade subjetiva. O Mandamento não é capaz de produzir sentimento. Essencial e existencialmente se conflituam a todo instante. Nenhum homem ou mulher são fiéis um a outro por imposições externas. A fidelidade só existe, ao sermos fiéis aos nossos sentimentos. Fidelidade não é um imperativo externo, mas um respeito ao próprio sentimento. A fidelidade não tem haver com tu e sim com eu. Ama-se o que se quer para si.