quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

CACOETE: ESCONDERIJO DAS RELAÇÕES

Ao penetrarmos no mundo das relações interpessoais verificamos as falhas e desencontros existentes. Cada um na busca de seus próprios interesses manifesta muitas das vezes uma frieza relacional, que nos deixa embasbacados e surpresos. Embora, possamos também ser os agentes de tais comportamentos e nos decepcionarmos conosco, todavia, o vislumbre exterior de determinados fatos enriquecem a nossa compreensão afim de que nos percebamos para evitarmos que tais situações se façam presentes no diálogo relacional com o outro.

O tema acima mencionado como “cacoete” tem por finalidade falar de comportamentos repetitivos e convenientes entre alguns casais que já têm um determinado período como casados. A suportabilidade de uma relação por questões convencionais e tradicionais que os mantém unidos, quando na verdade o sentimento de amor não existe mais ou nunca existiu. Vivem e se fundem em cópulas, pois faz parte do convívio cacoete, por estarem submetidos à sociedade, aos imperativos religiosos ou não, numa tentativa de passar aos outros os estereótipos, cuja verdade se encontra escondida atrás das máscaras de "Viena".

Conta-se a história de uma jovem casada há três anos cujo casamento estava indo à falência. Tal jovem ao visitar a casa vizinha viu um casal de 50 anos de casamento de mãos dadas no sofá da sala assistindo ao filme. Ela então se perguntou o que é que estava acontecendo com seu casamento ao ver aquele quadro que a impressionou. Retornou para ao seu lar com aquela imagem. Passaram-se alguns meses, ela recebeu a notícia que o senhor havia morrido. Ela de imediato foi estar com a viúva para prestar os pêsames. A viúva interditou a fala daquela jovem ao dizer: “minha filha não se preocupe comigo. Ainda bem que ele faleceu”. Disse a jovem: “minha senhora não entendo essa sua declaração. Eu os vi sentados de mãos dadas assistindo ao filme, parecia haver muito afeto entre vocês dois”! Disse a senhora: “minha filha o que você viu era cacoete. Entre nós dois não existia mais nada, só que a gente se acostuma a viver de aparências. A igreja que eu frequento tem a mesma imagem que você tem de mim, todavia, você é a primeira a saber sobre o cacoete, um comportamento repetitivo. Estávamos juntos por conveniência e medo de ficarmos sós. Por isso não nos separamos. A minha religiosidade me enganou e assim vivi com um homem que penso nunca ter amado. A minha vida com ele, como já lhe "disse" era de pierrô. Não se iluda nem se prenda ao que você vê, por detrás pode haver muita mentira. A verdade não faz sucesso. Ela ( a verdade) não é bem aceita socialmente. Viver uma mentira é mais tranquilo e com o tempo sentimos uma pequena sensação de verdade. Ele pagava meu plano de saúde, fazia todas as minhas vontades..., ainda que de vez em quando me maltratasse, com grosserias, dizendo que eu abria a boca para falar merda, ao ver-me insatisfeita com alguma coisa e reclamando. Minha filha se da minha boca saia merda, não era mais uma boca, mas um..., mas sabe, fui empurrando com a barriga essa sacanagem que me favorecia,” afirmou a sincera viúva.

É vergonhoso estabelecer as relações baseadas em conceitos fundamentados pelas tradições sociais, a fim de causarem impressões, como se tudo estivesse na mais perfeita harmonia. Isso é uma covardia que as pessoas praticam contra si mesmas! A tradição de uma maneira geral não garante nenhuma verdade. Ela pode ser perpetuadora, sustentadora, enraizadora das máscaras que constroem certos vínculos afetivos, nos quais se apoiam a vida em sociedade.