sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O PINTASSILGO E A LIBERDADE! RELIGIÃO SINÔNIMO DE RÃS E CAVERNA





Baseado no Mito da Caverna do Filósofo Platão é que nos propomos escrever esta matéria, cuja finalidade visa conduzir o leitor a uma reflexão sobre o tipo de olhar que você tem tido do mundo e sobre si mesmo. Sempre ansioso em conduzir as pessoas a saírem dos condicionamentos produzidos pelo meio que tem convivido, buscamos com muito ardor no coração, posicionar este texto na expectativa de fazê-lo com que uma nova ótica venha existir. Espero que cada leitor possa mais uma vez adquirir algo para sua vida e que realmente venha libertá-lo da caverna como modus vivendi.

Trabalhando com o imaginário, imaginemos uma caverna, lugar onde desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados por conhecimento e informação recebidos. Tais humanos se encontram como engessados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar com olhares direcionados somente para frente sem poder fazer nenhuma rotação com o pescoço. Na abertura de entrada da caverna uma luz exterior tem penetração livre de modo que os prisioneiros vejam somente silhuetas na parede da daquilo que ocorre fora dela.

Por causa da luz e a maneira como ela ocupa seu espaço nesse ambiente, os prisioneiros enxergam na parede (não tendo outro olhar), sombras de objetos transportados, mas sem poderem ver os próprios objetos nem os homens que os transportam.

Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são realidades. Isto é, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens, nem que há verdadeiramente seres humanos no exterior da caverna. A luz que eles têm na caverna é a que satisfaz como a luz que ilumina toda a realidade que necessitam. Platão questiona o que aconteceria se um prisioneiro se libertasse. Com certeza, muito dolorido pelos anos de ignorância que um sistema aprisionador o manteve, se dirigiria a entrada da caverna para realmente ver o que é contrário ao que ele conheceu. Num primeiro momento ficaria cego, porque a luz do sol lhe ofuscaria. Contudo, depois de acostumado com a claridade, veria realmente o que era visto como sombra e como as informações recebidas pelo sistema eram completamente erradas que o viciou num mundo medíocre e de constantes repetições enganosas, onde 99% das pessoas daquela caverna permaneceram.

Libertado e conhecedor da realidade que lhe estava oculta, retorna à caverna para dizer (aos que permaneciam prisioneiros e satisfeitos com o engano que lhes impuseram, sem saberem que eram vítimas de um esquema) o que realmente é a realidade, e que a visão deles eram uma distorção daquilo que de fato é. Sem dúvida os prisioneiros zombariam dele, diria ser ele um louco, mentiroso, herege apesar de ser muito caçoado, correndo o risco de ser espancado e morto.

Por que essas pessoas tentariam fazer uma maldade com aquele que se libertou de um sistema manipulador da realidade? Porque sentiriam a sua figura narcísica ameaçada. O outro mundo não os interessariam. Em latim, "outro" se diz alienus de onde vem o termo alienação. E entende-se por alienação deixar ser governado pelo o que está estabelecido achando que seja o melhor, quando na verdade tais pessoas são frutos de interdição e escravidão a serviço dos dominadores que alienam os homens para que não vejam a realidade nem prejudiquem seus interesses.

Diante do exposto acima, cabe a reflexão de como nos encontramos no mundo, na sociedade e que olhar temos tido dos nossos ambientes sejam eles quais forem, e qual é o nosso olhar sobre nós mesmos e o grau de satisfação que temos tido com a vida em todas as suas relações. Após momentos profundos de reflexão, façamos cinco perguntas ilativas: Estou na caverna? Gostaria de sair dela? Tenho coragem suficiente para mudar a minha "realidade" de utopias para verdadeiramente conhecer o diferente lado ocultado? Ou estou feliz nessa minha condição de mesmice? Ou preciso de fato virar as costas, para a parede, que tem sido o meu único olhar, uma idolatria, numa intensa libido, para não enxergar pelo medo que tenho do Gozo maior?



Qual seria a linguagem e a maldade da religião?



Recontei uma estória para crianças e adultos com o título O pintassilgo e as rãs. Está no livrinho Estórias de bichos (Loyola). É sobre um punhado de rãs que viviam dentro de um buraco fundo. Haviam nascido lá, nada conheciam sobre o mundo de fora. Pensavam que seu buraco escuro e malcheiroso era o universo. E estavam muito felizes. Até que um pintassilgo entrou lá dentro e começou a trinar canções sobre o maravilhoso mundo de fora. As canções do pintassilgo provocaram um rebuliço. Os poetas sempre provocam rebuliços. A paz do mundo das rãs foi perturbada pelas as idéias novas. As rãs românticas acreditaram, começaram a sonhar e a fazer planos para sair do buraco. As rãs realistas, ao contrário, disseram que o pintassilgo era um mentiroso que desejava enganar as rãs com promessas falsas de um mundo diferente.

Escrevi um livrinho com o título O que é religião?. Nele eu me pus a perguntar a sociólogos, psicólogos e filósofos: “O que é religião?“. Eu desejava ouvir o que eles têm a dizer, mesmo sendo diferente daquilo que penso. Nietzsche dizia que a maneira mais fácil de corromper um jovem é ensiná-lo a respeitar mais as pessoas que pensam igual a nós, que as pessoas que pensam diferente. Os que pensam diferente são aqueles que estão vendo o mundo por um ângulo diferente do nosso. Sabendo que há uma forma diferente de ver as coisas começamos a ficar desconfiados de que, talvez, estejamos dentro do poço das rãs...

As Igrejas sempre tiveram e têm horror aos pintassilgos. Os pintassilgos, elas os chamam de “hereges“. E, como você sabe da história, milhares de pintassilgos hereges foram torrados em fogueiras, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É preciso ter muito cuidado com rãs que moram em buracos fundos.
(Rubem Alves)