terça-feira, 11 de outubro de 2011

SANTO, LOGO, SEMPRE SANTO! UMA ANÁLISE DA PARÁBOLA DO FILHO PERDULÁRIO



A parábola tem por finalidade ilustrar uma história, que se destina evidenciar, um fato ou uma verdade.
Jesus continuou: "Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao seu pai: pai, quero a minha parte da herança. Assim, ele repartiu sua propriedade entre eles. Não muito tempo depois, o filho mais novo reuniu tudo o que tinha, e foi para uma região distante; e lá desperdiçou os seus bens vivendo irresponsavelmente. Depois de ter gasto tudo, houve uma grande fome em toda aquela região, e ele começou a passar necessidade. Por isso foi empregar-se com um dos cidadãos daquela região, que o mandou para o seu campo a fim de cuidar de porcos. Ele desejava encher o estômago com as vagens de alfarrobeira que nos porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. Caindo em si, ele disse: Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui, morrendo de fome! Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados. A seguir, levantou-se e foi para seu pai. estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu para seu filho, e o abraçou de beijou. O filho disse: pai, pequei contra o céu e contra ti. Não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: depressa! Tragam a melhor roupa e vestiam nele. Coloquem um anel em seu dedo e calçados em seus pés. Tragam o novilho gordo e mantem-no. Vamos fazer uma festa e alegrar-nos. Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado. E começaram a festejar o seu regresso. Enquanto isso, o filho mais velho estava no campo. Quando se aproximou da casa, ouviu a música e a dança. Então chamou um dos servos e perguntou-lhe: Seu irmão voltou, e seu pai matou o novilho gordo, porque o recebeu de volta são e salvo. O filho mais velho encheu-se de ira, e não quis entrar. Então seu pai e insistiu com ele. Mas ele respondeu ao seu pai: Olha! Todos esse anos tenho trabalhado como um escravo ao teu serviço e nunca desobedeci às tuas ordens. Mas tu nunca me deste nem um cabrito para eu festejar com os meus amigos. mas quando volta para casa este teu filho, que esbanjou os teus bens com as prostitutas, matas o novilho gordo para ele! Disse o pai: Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que tenho é seu. Mas nós tínhamos que celebrar a volta deste teu irmão e alegrar-nos, porque ele estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi achado" (Lc. 15,11-34)


INTRODUÇÃO



A parábola do filho pródigo contada por Jesus, convida-nos a penetrarmos teologicamente algumas realidades, que são, e se tornam ignoradas quando não atentamos à relação de pertencimento familiar, existente entre um Pai santo e um filho que cheirava a porco, porém santo. Este filho, todavia, santificado, desde sua saída de casa, sem que em algum momento deixasse de ser um santo, santificado. “Não é possível estabelecer graus para a santificação como processo. Pois a fé significa justamente ser abstraído de si mesmo e do juízo sobre si mesmo. Não é o santificado em si que merece atenção, mas Deus como aquele que santifica” (Oswald Bayer).
Categoricamente aqui está o grande problema teológico tanto bíblico-exegético como sistemático, onde a moral e a ética são confundidas com a santificação.
Em I Pedro 1.15 lemos: "Pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o procedimento."Acreditamos que é nesse momento que se estabelece o conflito exegético. Ao lermos o verso acima, parece que o caráter deôntico está presente. Entendamos melhor! A expressão tornai-vos santos indica em português um ativo humano, isso porque, a tradução do grego do Novo Testamento (que na realidade não é uma tradução mas uma interpretação), não transmite a idéia que o verbo tornar no texto "original" quer expressar. O verbo é um imperativo, não resta a menor dúvida, contudo, se encontra na voz passiva. Entretanto, o imperativo aqui foi o compromisso de Deus em realizar nos escolhidos a santificação. Não há como sermos passivos de nós mesmos, logo, somos o sujeito da ação de Deus. O verso 16 então completa a ideia ao afirmar: "Sereis continuamente santos, porque eu sou santo" Observe que não é sede santo, mas sereis santos para sempre. O verbo ser no texto grego é um futuro do indicativo ativo, ora se é ativo, logo será linear, contínuo. Deus sempre nos mantenerá santos, separados, pois a sua obra de santifcação sobre os seus já foi realizada. O nexo causal do verso 16 se evidencia, quando a partir de agora, começamos a perceber de maneira clara e objetiva o que o apóstolo Pedro quis nos dizer no versículo 15.


"Vi ontem um bicho na imundície do pátio catando comida entre os detritos quando achava alguma coisa, não examinava nem cheirava: engolia com voracidade. O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato, o bicho, meu Deus era um homem" (Manoel Bandeira).


A nossa proposta é trazer o lume à compreensão de alguém que estava perdido e morto, porém filho e também evidenciar os que estão vivos, todavia mortos. A parábola como condição "sine qua non" evidencia que somos escravos da nossa vontade. “ Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo” (Rm 7,19 N.V.I.).


No livro Percurso de Lacan uma introdução de Jacques-Alain Miller lemos: "Para que exista um desejo, é necessário que, em algum ponto, se fechem os olhos, pois ver tudo mata o desejo". Por esse caminho de interpretação, fica evidente que o apóstolo fechava os olhos, e ao abri-los, se via numa grande inquietação, em virtude do gozo gozado. O mundo sensível lhe era uma grande ameaça, para aquele que pensava nas “coisas que são de cima”


O grande teólogo alemão Karl Barth, dialoga sobre o indicativo do querer na sua Carta aos Romanos fazendo as belíssimas declarações: "Quem poderá privar alguém de 'querer verdadeiramente'? Talvez eu, também, seja um dos que procuram a Deus 'o querer eu consigo'! Pode ser. Mas o amparo religioso que provavelmente terei de procurar para 'conseguir' esse querer, pode ser tão precário quanto o lado [aparentemente oposto] onde [declaradamente] não faço o bem que quero. (7.16).Tanto em um como noutro caso, tudo depende de eu conseguir realizar o que é reto, segundo o 'bem querer' que há em mim. Fica, pois, claro e fora de dúvida que o mais honesto, o mais profundo, o mais fundamental desejo de fazer o bem, nem sempre é coroado com a realização do que é reto (...) Como homem religioso, à minha própria indagação sobre o que poderei fazer de bom por força do meu amor ao bem, terei que responder 'NADA'. Terei que admitir que não posso permutar a minha vontade de praticar o bem pelo próprio bem. O bem tem a peculiaridade de insistir na realidade, [na sua efetivação]; o bem não quer ser somente desejado, mas precisa ser realizado e praticado. Porém eu não pratico; por isso, ainda uma vez, preciso indagar: quem sou eu que de forma intolerável preciso ser “os dois”, concomitantemente: aquele que quer e aquele que não pratica o que quer e que, pelo desejo sincero de seu coração, é apenas conscientizado de que o bem... Não habita nele!"
Ivo Storniolo declara: "Sabemos de pessoas que, da noite para o dia, se tornaram o oposto do que eram, transformando-se, de pessoas civilizadamente autocontroladas, em monstros furiosos e irreconhecíveis. É a Natureza [humana] que volta, cobrando implacavelmente a dívida e gerando tamanha culpa que a parte consciente não resiste e sucumbe a enchente. Como dizia Horácio, ‘Naturam expellas furca, tamen usque recurret’ (= ainda que a expulses com um forcado, a Natureza [humana] voltará a aparecer". Assim declara o Apóstolo Paulo, no momento que encontra a resposta para transformação de que conscientemente deveria fazer, no entanto, sucumbiu a enchente que vinha sobre ele, conduzindo a fazer o que ele não queria. Ora, se eu faço o que não quero, já não o faço eu, mas o pecado que habita em mim (Rm. 7,20)."O homem é a única criatura que insiste em ser o que não é" (Albert Camus).


O EU NÃO É SENHOR EM SUA PRÓPRIA CASA



Freud descobriu que o “eu” não é o senhor em sua própria casa. Por que o pai não impediu a saída do filho sabendo de antemão tudo que lhe aconteceria? Parece que o pai permitiu a saída, porque esta seria para o filho um êxodo pedagógico. Ele era escravo da sua vontade. As decisões tomadas, baseadas através da nossa vontade têm uma importância consequente, logo de aprendizado. Este aprendizado é o ordenado por Ele na sua Lei e é por Ele mesmo cumprido. Entendamos melhor! O salmo 19,2 diz o seguinte: “Quem há que possa discernir as próprias faltas. Absolve-me das que me são ocultas [inconscientes]”. Muitos conhecem a máxima socrática “uma coisa sei que nada sei”, no entanto, o Salmo 19,2 vai além da frase de Sócrates, não é um não saber intelectualizado. Nós não nos conhecemos, não conhecemos o nosso coração. “O coração é sinuoso, mais do que qualquer outra coisa, incorrigível, quem pode conhecê-lo?” (Jeremias 17,9 T.E.B.).


No livro “ A teologia de Martim Lutero” lemos:

"Para Lutero [Jr. 17,9], essa pergunta do profeta revela a natureza do ser humano. Ela pergunta, formulado mais acuradamente, pelo segredo do ser humano. Numa paráfrase livre, Lutero formula essa passagem de tal maneira que ressalta a compreensão agostiniana do pecado como superbia e desperatio, como altivez e desespero: “O coração é uma coisa soberba e desalentada; quem pode discerni-lo?” Isto quer dizer: nós estamos fora do nosso alcance, ocultos, não temos domínio sobre a nossa consciência, nem sobre as imagens e os sonhos que nos fascinam e assustam; antes somos radicalmente cativos. Quem conhece a fundo o seu próprio coração, que “é mais profundo do que tudo [mais]” (17.9), conforme a Septuaginta Quem quiser conhecê-lo a fundo despencará num abismo."


Oswald Bayer, comenta sobre a compreensão que Lutero tem da natureza pecadora: Se a natureza é pecadora, se o mal está embutido em nossos corações, se o pecado habita em nossa carne, então tudo que o ser humano faz é considerado pecado. Lutero vai além dessa afirmação, dizendo que até mesmo as boas obras dos cristãos são consideradas, sob a ótica de Deus, pecado. “Não há ser humano justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.” Para que nos serviu a lei, os mandamentos, com certeza, serviram para Ele, Jesus de Nazareth, cumprir. Ele as elaborou para declarar: (tetelestai) Tudo foi pago, cumprido completamente [sobre mim] (joão 19,30). Pretérito Perfeito Cristológico. Caráter irrevogável. Fato ocorrido em determinado tempo, cujos efeitos permanecem para sempre.Como já mencionado acima, o pai não impede a saída do filho, este quando volta, não escuta nenhuma repreensão (o pai sabia que o filho ensaiou tudo que iria dizer (Lc.15.18,19) e no verso 21 a concretização do ensaio), mas curte música e ainda dança um “paGod” (Lc. 15,25). O filho voltou porque o pai que estava nele o trouxe.


Nenhum ser humano tem a capacidade de dirigir em direção a Deus. Se isso fosse possível não haveria necessidade de salvação. "Todo o que o Pai me dá virá a mim..." (Jo. 6,37). Fica evidente que o movimento é de Deus e não do homem. "Não há quem busque a Deus".


MUDANÇA REPENTINA


As mudanças repentinas às vezes nos assustam. Quando parece que as coisas estão correndo muito bem, há umas tomadas de decisões, que muitas das vezes, são de pessoas que apresentam um certo grau de desiquilíbrio mental. A mudança do filho pródigo parece ter sido algo muito repentino, ao dizer:" Pai quero minha parte da herança..." Quanto a essas mudanças repentinas, o psiquiatra suiço Paul Tournier, faz o seguinte comentário:
..."complexos, fantasias secretas, tentações, sonhos vaidosos e inconfessáveis, todo um mundo de impulsos mais ou menos conscientes, muitas vezes sem forma definida, se desenvolvem em nós. Estes desafiam a censura de nossa vontade e nós nos sentimos em confusão. É um outro eu, que vive em nós, que não podemos apagar e que tememos que seja descoberto. Porque nós temos pensamentos horríveis, e parece que não suportaríamos a vergonha se eles fossem revelados."

Acreditamos que o filho pródigo realizou todas as fantasias, as quais deixaram de ser ao realizá-las. As fantasia só existem enquanto não realizadas. Ele se esbaldou, gastando o seu dinheiro com as prostitutas.

O filho deixa o pai, o pai não perde o filho e ambos não deixam de se pertencerem.
Jesus deixou claro, ao contar essa parábola, que o pecado jamais interrompe a relação de família, ou seja, quem é não deixará de ser. O filho não deixa de ser filho, o pai não deixa de ser pai e o irmão não deixa de ser irmão não importando a situação moral que o pródigo estava vivendo (Lc.15.21,22,25). Contudo, queremos enfatizar que nem a parábola, nem o escritor desta matéria fazem apologia às condutas deontologicamente erradas. A vida cristã não deve dialogar com uma vacuidade ética. Todavia, o pecado nunca e jamais será mais poderoso que a graça de Deus. Onde o pecado abunda a graça será superabundante. A moral e a ética estão sob a graça! A moral e a ética são os demônios da esfera religiosa. São "substitutivos" da graça de Deus.

PECCA FORTITER ( A OUSADIA DO FILHO PARA PECAR E A CERTEZA DA FILIAÇÃO)

O Jovem tinha certeza da sua filiação, isto é, tinha um pai logo, filho. Ao retornar para casa ele disse que não era digno de ser chamado filho. Observe, ele afirma ser filho. Não ser digno é uma coisa, deixar de ser filho é outra. Ele depois pede ao pai que o trate como a um dos empregados. Outra vez ele faz a manutenção da filiação. O comparativo “como” evidencia a sua filiação mais uma vez. Ele era filho e não empregado! Por que desses pedidos do filho? Porque ele foi ousado e tinha certeza da sua imunidade para escancarar. Sofreu consequências, mas nada que o condenasse eternamente, razão porque, condenado só quem não é filho.
Pecca fortiter (peque ousadamente) expressão usada pelo Teólogo Reformador Matinho Lutero, valida a ideia de que ainda que sejamos ousados para pecar, devemos crer convictamente que a graça nos alcançou fortemente, por meio da fé em Jesus Cristo. Fé, esta, que o próprio Deus colocou no coração dos escolhidos para crerem em seu Filho (Ef. 2,8). Sendo assim, entendemos que o pecado não terá domínio sobre os eleitos de Deus. “ Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei mas da graça” (Rm. 6,14). Ora, o que nos garante não ficarmos como servos do pecado, não é o nosso esforço para não pecar, isso é categoricamente impossível (IJo. 1,10) mas é unicamente a graça de Deus. “E libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” (Rm. 6,18). Graça é a justiça de Deus. O verbo libertar no texto grego encontra-se na voz passiva, transmitindo o sentido de alguém que foi libertado de uma única vez, ou seja, efetivamente não precisando NUNCA mais de libertação. Por encontrar-se na voz passiva, sabemos que o sujeito sofre a ação do verbo sem que precise fazer qualquer coisa, qualquer obra. Assim como a expressão fostes feitos servos transmite o mesmo sentido. Isto é, ninguém se faz servo, pelo contrário, é feito.


VIVENDO EM PECADO



Na parábola do filho pródigo começaremos perceber como já temos percebido, que algumas palavras do texto grego transmitem uma beleza que o texto em português não consegue alcançar. O verso 13 de Lucas 15 faz-nos ver (zon) traduzido com a ideia de continuidade, vivendo (ação continuada) de maneira dissoluta e devassa (asotos). Observemos que o filho estava linearmente em pecado, mas não era servo do pecado, como já mencionado acima em Rm. 6,18. Já no verso 21. O verbo pecar (hmarton) diz-nos que o jovem da parábola ao fazer a confissão o faz ingressivamente, constativamente e efetivamente. Isto quer dizer que o filho estava dizendo ao pai que ele ingressou no pecado, tornou-se fato e o manteve efetivo por algum tempo em sua vida, embora, ainda, permanecesse com todas as tendências para pecar.O Teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, no seu livro Resistência e submissão deixou registrado uma beleza poética, pontuando profundamente uma realidade, numa das suas cartas na prisão de Tegel, Berlim: "Homens na sua angústia se chegam a Deus, imploram auxílio, felicidade e pão; que salve de doença, de culpa e de morte os seus. Assim fazem todos, todos: cristão e pagão. Homens se aproximam de Deus, quando Ele em dor, acham-nO pobre, insultado, sem agasalho, sem pão.Vêem-nO por nosso pecado vencido e morto, o Senhor; Cristãos permanecem com Deus na Paixão. Deus está com todos na sua angústia e dor. Ele dará de corpo e alma o eterno pão. Morre por cristãos e pagãos como Salvador, e a ambos perdoa em sua paixão".


A SAUDADE E O FELIZ ENCONTRO


A teologia cristã declara acertadamente que Jesus é Deus encarnado. Sendo assim, entendemos que Deus sofreu todas as dores do filho.A posição de Jürgen Moltmann no seu livro, O Deus crucificado foi assim resumida por Edson Fernando de Almeida no livro, Do viver apático ao viver simpático: “O pai e o filho sofrem, mas experimentam o sofrimento de diferentes maneiras. O Filho sofre a dor e a morte de cruz; o Pai dá seu filho e sofre sua perda”.
Com certeza o pai da parábola estava sofrendo com a ausência do filho perdulário, gastador. Pior, o genitor sabia o que aconteceria com aquele jovem e quando este retorna encontra um pai solidário.Enquanto no verso 17 o filho no seu monólogo fala Patros moy (meu pai), no verso 24 o pai ratifica a relação de pertencimento familiar ao declarar o yios moy (o meu filho). Em que condição chegou o filho diante daquele pai? Jesus era um judeu e ao narrar à parábola fala que aquele rapaz estava cuidando de porcos. Animais estes, considerados pelos judeus, como imundos. Interessante que o pai não ponderou sobre a confissão de pecado, mas de imediato ordena aos servos que faça uma festa para o filho cheirando a chiqueiro. (v.15). “É o amor que sofre em solidariedade.” O rosto do pai se reflete no rosto do filho que sofre.


"A saudade é um buraco na alma que se abriu quando um pedaço nos foi arrancado (...) e o que deseja a saudade não é uma coisa nova. É o retorno da coisa perdida. Saudade é o revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu... É inútil consolar a mãe, diante do filho morto, dizendo que ela poderá ter outro filho mais bonito e mais inteligente. O que a mãe deseja é aquele filho burrinho e feio - pois é este que ela ama". (Rubem Alves).


Na introdução deste texto afirmamos que o filho da parábola é santificado. Sim, não resta a menor dúvida. Deus não tem filho que não seja santo. Após a morte e ressurreição de Jesus nos deparamos com o verbo hgiasmenois (santificados) em I Co. 1,2 e Hb 10,10,14 que indica algo que se aconteceu em tempo passado cujo efeito permanece para sempre. O verbo está na voz passiva. O Senhor é quem santifica os seus escolhidos. Logo, os eleitos são passivos ao ativo de Deus. Em Efésios 2,8 encontramos o mesmo tempo verbal com a mesma qualidade de ação e voz: sesosmenoi (sois salvos) Entendemos então, que não há um santo que não seja salvo, assim como, não há salvo que não seja santo. Ninguém se santifica nem se salva. Trazendo a parábola para a realidade, se aquele filho morresse nos braços das prostitutas ele hoje estaria com Deus. Mesmo nos braços delas ele era SANTO, sem nenhuma dúvida , caso contrário o evangelho não seria graça e sim ético/moralizante e determinante à salvação do homem.
Infelizmente, por exagerado zelo, muito líderes que sabem essa verdade não abrem para a igreja, temendo um descompromisso ético/moral. Esquecem eles que a não vinculação a verdade é geradora de hipocrisia e farisaísmos. A igreja precisa saber que NINGUÉM se faz santo é Deus quem santifica. A santificação não tem nada a ver com moral e ética. Estes fazem parte do convívio social entre todos seguimentos da sociedade. Há ateu que é ético e moral, assim como também há cristão ético e moral. Qual a diferença entre eles? Jesus. Quanto ao comportamento eles são idênticos. Logo, reafirmamos que a moral e a ética não se conjugam com a santificação.


SANTO E SALVO, SALVO E SANTO


O jovem da parábola no seu viver dissoluto era uma pessoa separada por e para Deus. É importante ressaltar que ele antes de sair de casa era filho, no pecado, filho e no retorno filho. Em todas essas etapas da sua vida santo e salvo, salvo e santo. Quanto aos vivos, todavia mortos, como mencionado no segundo parágrafo, seriam aqueles que não conseguem entender as palavras de Jesus nesta parábola e pouco entendem do que leram até o fim desta matéria.

"Vejo pessoas sendo paradoxalmente mortas por idéias e ilusões que lhes dão razão de viver" (Albert Camus).

Deus não é retributivo! Ele não abençoa porque fazemos ou deixamos de fazer alguma coisa. Esse pensamento invade os meios evangélicos, fazendo do Senhor um ente religioso, que exige dos seus seguidores sacrifícos, sendo Ele o reponsável por um ambiente de exagerada falsidade, que chega ser vergonhosa a teatralidade que é impercebível muitas das vezes.