sexta-feira, 24 de junho de 2011

A CULPA


Somos constantemente vencidos e angustiados por aquilo que declaramos taxativamente não fazer mais. Só, que não é bem assim, voltamos a repetir o que “queríamos” interditar. O gozo é mais forte. Se repetimos o que “não gostaríamos” é porque gozamos. Só repetimos aquilo que favorece o prazer. O desejo está além da vontade. Negar o que é natural, este voltará a galope. Ainda que que a pessoa se isole num convento ela não se livrará do malandro que vive na sua subjetividade, desejando, desejando e desejando.


A declaração paulina: “ O bem que quero fazer não faço mas o mal estou continuamente fazendo”. Aqui está estabelecido o conflito e a queixa por não conseguir solucionar. A vida de oração, de meditação na palavra de Deus, nunca resultou em solução para o seu conflito. Tentar ser o que não se é produz muita inquietude. Então se luta para não ser o mal que possuimos como morada, como no caso do Apóstolo, sem sucesso. Como já disse Albert Camus que o homem é o único ser que tenta ser o que não é. Na música dont let the sun go dowm on me encontramos a seguinte declaracão nos lábios de George Michael e Elton John: "Although I search myself, it's always someone else I see" (Embora eu me procure a mim mesmo, é sempre outro alguém que vejo). Na compreensão do filósofo empirista David Hume, nós humanos somos uma sucessão de intantes o eu de agora não é mais o eu do daqui-a-pouco.


O sentimento de culpa resulta não pelo mal que fez, mas pelo bem que deixou de fazer. Desses conflitos que surgem as neuroses. Somos seres em conflitos ainda que com características diferentes um dos outros. A culpa é a vilã dos conflitos intrapsiquicos. O moralismo fomenta que seremos reprovados pelas "faltas" que cometemos, contudo, Jesus afirma o contrário que seremos julgados pelas boas ações que deixamos de fazer.


PESSOAS BOAS OU PESSOAS QUE CUMPREM UMA OBRIGAÇÃO?


Temos vistos pessoas que querem se mostrar boas, prestativas, assistencialistas, a melhor no âmbito familiar, todavia, todos seus feitos aparentemente bondosos têm uma relação extramente culposa. Esforçam-se para tirar o piolho na cabeça de alguma criança, querem tratar da ferida de alguém, se esforçam em se doar, ao mesmo tempo, desejam serem vistas como heroínas. Contudo, tode esse empenho não é porque elas são boas, porque não as são. A relação de tais pessoas com a culpa as conduzem a um tamanho envolvimento com os de dentro da sua casa e com os de fora numa busca de honra, de louvor, de ovações. Caso consiga, tais manifestações fará com que elas sintam o seu sofrimento da culpa diminuído. São pessoas teatrais, tudo que fazem não é porque têm sentimentos nobres, mas porque se percebem que não são nada e então tentam ser o que não é. São narizes em pé. Para alcançar um lugar no palco, falam mal de algumas pessoas com que se relacionam, fazendo delas bodes expiatórios para conseguir um espaço no circo dos bondosos, através de favores e a ajuda visando tão somente serem vistas como boas e assim alcançando favorecimento de suas manifestações narcísicas e refrigério para a culpa. Certa ocasião um jovem procurou Jesus dizendo: Bom mestre que farei para herdar a vida eterna? Ao que Jesus respondeu: Não há ninguém bom, somente um, DEUS. O próprio Jesus nega a possibildade dessa linguagem existencial do ser humano bom. Queremos considerar em particular neste parágrafo, que tais pessoas, querem fazer algo para diminuir a sua dor, mas quanto mais se envolve como circense da bondade piora mais ainda a inquietude da culpa não resolvida. Bom, considerando ao que foi dito anteriormente, parece haver um elemento paradoxal, todavia não há. Lemos no parágrafo que antecede a este que o sentimento de culpa resulta pelo bem que se deixa de fazer. Logo, entendemos que todos os assintencialismos, o doar-se com sentimentos onde a mão esquerda precisa ver o que a direita está fazendo, numa busca frenética de reconhecimento, ovações, resulta num mau, numa artimanha em querer se julgar melhor que o outro no circo da alegria. Sendo assim, o bem que se deixa de fazer se caracteriza na resistência de se reconhecer como um NADA. O que se faz de bom por alguém é um dever! E depois de ter feito tudo, deve considerar-se inútil assim ensinou Jesus, mostrando que fazer o bem é uma obrigação e nada mais, porque quem sabe fazer o bem (diz-no a bíblia) e não o faz comete pecado. Conclui-se que não há nenhuma pessoa boa pelo fato de realizar o bem. O bem é uma obrigação! Pessoa boa não existe pelo fato de realizar atos benevolentes e nunca existirá! O bem é um dever. O bem é um imperativo não dando a nenhum ser humano o direito de louvor. No bem não há aplausos somente a obrigação de fazê-lo. Assim como no direito penal a omissão de socorro (um bem a favor de) é crime.


Falar sobre o sentimento de culpa é falar sobre aquilo que causa intranqüilidade, inquietudes. Mas como se origina o sentimento de culpa? Parece que através de duas origens podemos identificá-lo: A angústia frente à autoridade e, mais tarde, a angústia frente ao supereu (super-ego).



Como diz Marina Cristina Ocariz em O sintoma e a Clínica Psicanalítica que a autoridade [com autoridade entende-se todos imperativos sejam culturais, éticos, religiosos, familiar, institucionais, etc] obriga a renunciar a determinadas satisfações pulsionais interditadas; renuncia-se a satisfação para não perder o amor. A segunda angústia força a punição, pois não se pode ocultar ante o superego a persistência dos desejos proibidos.



Continua ela ao exemplificar, que um fato clínico pode acontecer no trabalho analítico: algumas pessoas reagem de maneira negativa frente ao progresso da cura. Algo se opõe nessas pessoas à cura que é temida como algo perigoso. Sendo assim prevalece a necessidade de estar doente. Existe nesses casos um aspecto narcísico, um proceder negativo frente ao analista e se fixar aos ganhos da doença. Este comportamento está vinculado a um fator de cunho moral do superego. Há um sentimento inconsciente de culpa que encontra sua satisfação na doença, por isso não quer renunciar ao castigo de padecer. O sentimento de culpa nesse paciente é mudo. Ele não se sente culpado, unicamente doente. Qual a gênese desse desejo em se punir? O superego é o depósito dessa agressividade que sofre. Cada agressão a que se renuncia satisfazer é assumido pelo superego, que dirige ao eu. O neurótico obsessivo é martirizado pelo superego acusando-o de não ter reprimido suas pulsões erotizadas proibidas ou agressivas. O neurótico obsessivo assume a culpa por um delito que não cometeu na sua fantasia. Quanto melhor o sujeito se comporte, mais o superego exige dele. Quanto melhor se conduz o sujeito, mais cruel o superego se mostra.O superego é tirânico, não dialoga com a realidade e ainda ordena uma satisfação impossível, um gozo impossível, através de seus imperativos cruéis.

Um dos grandes veículos de fortalecimento do superego é a religião, tornando cada vez mais o superego um empecilho à cura.


A FUGA


Paul Tournier declara que todos fugimos a todo instante , no silêncio, ou na tagarelice, na inércia, ou no jornal, ou no tricô, etc., nos econdemos atrás de um regulamento oficial, para "cobrir" nossa responsabilidade, protegendo-nos contra a culpa, sendo essa fuga mais culposa. Nos escondemos tanto na cólera, quanto na doçura, afirma ele, na auto-suficiência ou na modéstia, no sentimento ou na agressividade. Comportamentos tais que são fugas da culpa tornando a culpas mais culposa ainda. Isso ocorre porque não somos fiéis a nós mesmos, nem as nossas convicções.