terça-feira, 22 de março de 2011

AS ESCOLHAS QUE FAZEMOS NÃO ESTARIAM CONDICIONADAS A NOSSA NATUREZA E A CULTURA?

"Podem arrancar tudo de um homem, menos a última das liberdades humanas: sua capacidade de escolher que tipo de atitude terá diante das circunstâncias que o rodearem" Viktor Frankl.

Tenho profunda admiração pelo Dr. Viktor Frankl, professor de Neurologia e Psiquiatria na Universidade de Viena e também professor de Logoterapia da Universidade Internacional. Ele é o fundador da Logoterapia. Dos 32 livros que escreveu, "A Presença Ignorada de Deus" me trouxe informações valiosas quanto a Interpretação analítico-existencial dos sonhos, todavia, me senti um pouco desconfortado com a declaração que li numa página de orkut que "Podem arrancar tudo de um homem, menos a última das liberdades humanas: sua capacidade de escolher que tipo de atitude terá diante das circunstâncias que o rodearem" Viktor Frankl.


Sobre a declaração acima, que estaremos escrevendo na contra-mão, ou seja, discordando da capacidade de escolha do homem vista como liberdade, independente de sua natureza e cultura. A liberdade que se julga haver no ser humano, não é fantasiosa, muito menos irreal. Sim, ela é real, logo, verdadeira. A liberdade dos homens está relacionada à prática dos seus atos voluntários. Os homens realmente têm a capacidade de fazer qualquer coisa que lhes agrada, de fazer as coisas que lhes são prediletas. Entretanto, nenhuma escolha para realizar qualquer intento estará fora ou seja, será contra a sua natureza e cultura. Um Teólogo Sistemático declara ser isso livre agência: a capidade de fazer qualquer coisa de acordo com as disposições dominantes da natureza. Tais ações acontecem porque há uma obediência incondicional aos impulsos interiores. Já a capacidade de escolher que tipo de atitude terá diante das circunstâncias que o rodearem, como declara Victor Frankl, discordamos, porque não há autonomia no homem, ainda que lhe pareça que suas ações foram independentes de qualquer coisa. Contudo, tais ações podem estar relacionadas ao fazer como ao não fazer determinada ou determinadas coisas. Tudo que o ser humano pretende fazer ou escolher e assim o faz, chamamos de liberdade, porém, nada é feito sem que suas escolhas estejam condicionadas a sua natureza e cultura. Castilho foi preso por praticar vários furtos. Foi condenado e cumpriu a pena. Só que na prisão ele se converte ao cristianismo. Agora em liberdade consegue um emprego em outro estado. Lá ele se torna membro de uma igreja, ativo nos trabalhos, presentes a todos os cultos. Todos alí têm profunda admiração por ele e por sua dedicação em querer servir. E além das atividades que ele realizava na igreja, Castilho havia sido nomeado o tesoureiro daquela comunidade. Na empresa que ele estava trabalhando começou haver algumas demissões e Castilho encontrava-se junto àqueles que foram demitidos. Mediante as grandes dificuldades financeiras, com esposa e filhos ele começou a furtar o dinheiro daquela igreja. Castilho não tinha como agir diferente. Não há liberdade autônoma para o homem. Só Deus possui autonomia de ação! A sua decisão em furtar está condicionada à sua natureza. Castilho não foi forçado exteriormente por nada. Ele não foi eximido de sua responsabilidade. Foi punido, entretanto, deve ficar claro que a sua ação estava de acordo com a disposição do seu coração. Quando alguém diz: "O bem que quero fazer não faço mas o mal que não quero este faço continuamente", percebemos nesta declaração de Paulo, a condição de liberdade condicionada à sua finitude. Paulo não era livre para fazer o que ele queria. Assim como Castilho, pessoa cristã, convertida ao evangelho fez aquilo que não queria fazer. E quando alguém deseja fazer aquilo que realmente quer fazer e faz? Essa pessoa agiu de acordo com a sua natureza também, não teria como agir diferente. Só Deus tem a condição de agir autonomamente, pois Ele não pode se negar. Entretanto, a liberdade absoluta não existe para ninguém. Nem Deus a possui. A liberdade absoluta não existe nem para Deus, porque ele não pode fazer nada contrário à sua natureza. Contudo, ele é livre no sentido de fazer qualquer coisa sem ter de dar satisfação a quem quer que seja. Ele não está sob a autoridade de ninguém. Nesse sentido ele tem liberdade de autonomia, mas não liberdade absoluta. Apenas age de acordo com a sua própria natureza (Dr. Heber Carlos de Campos). Não podemos negar que conceituar liberdade seja algo gerador de grandes dificuldades, todavia, acreditamos que se conseguirmos olhar para natureza humana e considerar a sua antropologia, a dificuldade naquilo que é óbvio será em parte resolvida.