segunda-feira, 10 de maio de 2010

AÇÃO PARABÓLICA DE JESUS



No Evangelho segundo escreveu Marcos de 11,11-26, identificamos que Jesus entrou em Jerusalém, se dirigiu ao templo e observou tudo ao seu redor. O verbo observar (tradução da Nova Versão Internacional). O verbo no grego se mostra como um particípio do 1º aoristo, que transliterado é periblepsamenos. Percebemos, então, que este verbo apresenta um aspecto ingressivo. É o anúncio que algo vai acontecer. Isto quer dizer que o olhar de Jesus não foi contemplativo, como alguém que estivesse olhando um lindo trabalho arquitetônico no templo.


"Saindo dali foi para Betânia com seus doze discípulos".


Ao chegar a Betânia, desgastado pela caminhada, Jesus teve fome. Observe que o texto não fala que os treze tiveram fome, mas somente Jesus. Naturalmente, como humano que também era, pode ser que ele já estava sendo consumido emocionalmente por aquilo que já estava esperando acontecer. Parece que em virtude disso, a necessidade fisiológica, se adiantou mais rápida do que as dos discípulos, tendo a necessidade de alimentar-se.Jesus viu uma figueira ao longe, com suas folhagens e dirigiu-se em direção dela. Esta, segundo texto, não se encontrava no tempo de dar fruto. A figueira segundo alguns botânicos ela dá seus frutos antes da folhagem. A folhagem vem logo a seguir. Todavia, a folhagem se mantém por muito período, após acabar o seu fruto, esperando seu novo ciclo. Jesus ao chegar perto dela observou que não havia nenhum fruto. Ele, então, amaldiçoa a figueira. Jesus não quis saber se estava ou não fora do tempo de dar fruto. A sua atitude parece anômala, insana, anormal. Contudo a sua atitude tinha um motivo. A sua ação era parabólica. Aquela figueira amaldiçoada carrega um valor simbólico, ou seja, a tentativa humana de se cobrir com folhas de figueira, assim como fizeram Adão e Eva, escondendo a nudez. Temos medo de mostrarmos como somos então nos camuflamos com a folhagem. Escondemos-nos para que ninguém nos descubra. Quem se esconde é medroso, logo, covarde. A camuflagem usada é uma tentativa de mostrar ao social uma coisa, mas na verdade é tudo uma farça.



As folhagens da figueira era manifestação da condição espiritual de Israel. Havia muita religiosidade, mas não havia mudanças de atitudes. Essa realidade permanece em nossos dias entre nós.Entremos no templo. Jesus ao entrar no templo observou uma anormalidade e começou a expulsar os que estavam comprando e vendendo. Derrubou a mesas dos cambistas e dos que vendiam pombas. Por que será que os vendedores de pombas foram evidenciados no texto, assim como no Evangelho de João 2,16? Os Pombos eram os animais mais barato e somente os pobres poderiam comprar para sacrificá-lo. O sangue dos animais sacrificados tinha função expiatória. Só que a moeda do templo foi trocada por uma superior. Digamos em nossos dias, seria o Real relacionado ao Euro. Só comprava quem tivesse Euro. Pobres com Euro é meio complicado! Ora, como eles não tinham o Euro, não podia comprar o animal mais barato, ou seja, o pombo. Jesus vendo isso, se indignou, impedindo a corrupção e a insensibilidade capitalista dentro do templo. Diz o texto que Jesus não permitia que se transitasse dentro do templo, qualquer recipiente. Será por quê? Esses recipientes eram levados para o lugar chamado Santo dos Santos, que não era nada Santo. Segundo Martin Wolkmann, o Santo dos Santos era o Banco Central. Local de se contar à arrecadação. Os animais que eram vendidos e entregues aos chefes dos sacerdotes, para serem sacrificados, entravam por uma porta e saíam por outra e revendidos. Os sacerdotes cuja função era interceder pelo pecado dos povo através do sacrifício dos animais, estavam comuna dos com os cambistas. Sendo eles, os sacerdotes, lideras espirituais, vendo que Jesus descobrira todo o esquema, procuravam ocasião para matá-lo.

]

Observem que eles não matavam os animais mais queriam matar Jesus.O texto sobre o templo apresenta quatro aspectos: social, econômico, político e ideológico religioso. Mas o que tem isso haver com à ação parabólica de Jesus? O texto segue. Pedro se dirige para Jesus e diz: Mestre a figueira que amaldiçoastes secou até a raiz. Jesus pergunta a Pedro se ele tem fé em Deus. E disse ainda Jesus, quando estiverdes orando se tiver alguma coisa contra seu irmão, perdoe.Jesus ao amaldiçoar a figueira dá-nos a lição que as folhas são camuflagens de uma religiosidade fingida, insensível, que despreza, que ignora o próximo. A religiosidade geralmente se manifesta baseado numa realidade egocêntrica, quando o bem para tais pessoas é que lhe traz vantagem ou satisfação. O bem é o bem delas. O mal é só o mal delas, o outro que padeça não se importam com o sofrimento, com a necessidade e a dor do outro. É uma frieza racionalista, não racional, de extrema indiferença. A solidariedade de tais pessoas é consigo mesma. Isso nos deixa mais do que evidenciado, que quanto mais ser humano é primitivo, tanto menor o seu patrimônio de sentimentos.
Percebe-se, que o capitalismo no templo é sem coração, cuja horizontalidade aos pobres e a necessidade pelo perdão por meio dos sacrifícios dos animais, tornou-se algo vergonhosamente inescrupulosa. Na verdade não havia sacrifício, somente engano e corrupção.Quando Ele fala sobre fé, oração e perdão, este tripé que deveria ser vivenciado no culto. Ele seria o único sacrifício de uma vez por todas, pelos pecados de muitos, o sacrifício do templo, apesar de não ser confiável, estava perdendo o seu valor.
Esta é a razão porque a figueira secou até a raiz. Nada de camuflagem. Tudo teria que ser novo e seria novo a partir dEle. Ele é o exemplo da não camuflagem, embora a folhagem permaneça ainda em nosso meio. Folhagem e máscaras neste momento as considero sinônimas.



"Depus a máscara e vi-me no espelho.
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
Essa é a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre criança (Álvaro de Campos heterônomo de Fernando Pessoa)
Como diz Rubem Alves: "A criança sempre horroriza o público. A criança ainda não aprendeu o papel, não usa máscaras, não participa da farsa, não representa. Seu rosto e seu eu são a mesma coisa. A qualquer momento a verdade que não devia ser dita pode ser dita pela sua boca."



Interessante que Jesus nos ensina a sermos como crianças. Verdadeiras! Sem a camuflagem da das folhas da videira. Infelizmente a maioria tem medo em mostrar-se, então, se esconde. Diz Adão: "tive medo, por isso me escondi [me cobrindo também com folhas de figueira]." Sabemos que o medroso é um covarde. Ele sempre foge e se esconde. Cabe aqui fazermos uma reflexão! O que temos sido?
Fiquemos pelados, nus, pois assim mostraremos que temos dignidade e caráter, evidenciando com transparência o que somos. Nada de fugirmos e nos escondermos. Ainda que a guerra seja acirrada, não fujamos, encaremos, pois a justiça de Deus sem dúvida se manifestará.
Ser o que somos exige um grande preço a ser pago, mas ao mesmo tempo, nos tornamos pessoas confiáveis. O escritor francês Albert Camus certa vez declarou que somos os únicos animais que se recusam a ser o que são.