quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A CULPA ATROFIA





"Alguns foram estar com Ele (Jesus), conduzindo um paralítico...Vendo-lhes, a fé, disse Jesus ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados" (Marcos 2.3,5).


Por que só Deus pode perdoar pecados?


Na Idade Média a solução para o pecado era pecuniário. Somente com o dinheiro se conseguia o perdão, a salvação.


Há tanta gente hoje em dia que se encontra socialmente comprometida por causa da culpa. Esta culpa está relacionada em não poder recuperar aquilo que um dia foi perdido. Fazem qualquer negócio para fugir deste sentimento que não alivia, que achata, entrando pelo caminho muita das vezes, da prostituição velada, golpeando-se profundamente, trocando-se, para obter. Entretanto, acredito que lá nas regiões mais profundas da subjetividade, tais pessoas estão à procura de amor, mas têm dificuldade de se relacionar com ele. Por isso se golpeam de maneira tão profunda, procurando a bola da vez para golpear-se no comércio descartável.


Consideremos uma razão por que somente Deus tem o poder de perdoar pecados

Deus é o único com o poder de produzir nele mesmo uma aminézia seletiva, um esquecimento radical.


Por mais que alguém se esforce para esquecer, percebe-se, que não há como esquecer. Vejo-me algumas vezes nessa condição, no entanto, não consigo esquecer! Tento uma aminézia, para não lembrar o que fiz contra alguém, e o que fizeram contra mim, mas não encontro saída. A memória é muito atual, categoricamente presente. Tento usar um "apagador" ou uma "borracha" para apagar as lembranças amargas, contudo o meu esforço é inútil. O filósofo existencialista Paul Sartre declara que "o inferno são os outros", discordo dele. O inferno era ele, o inferno sou eu. O meu maior inimigo não são os outros. O meu maior inimigo não é o diabo. O meu maior inimigo é o meu coração. Quando vejo os outros como inferno, na verdade, estou me vendo como uma projeção daquilo que sou.


Encontro, então, em Deus, ainda que eu não tenha esquecido, a seguinte declaração:


Das tuas culpas não me lembrarei mais (Hebreus 10.17).


Deus é o único que tem o poder de esquecer a minha culpa com relação ao que ele sabe. Ele sabe que a culpa retida pode adoecer-me.


Mas o que será que Ele leva em consideração? Ele leva em consideração a infelicidade humana. Ele vê diante dele um homem somatizado pela culpa. Jesus não o cura de imediato da sua enfermidade física, mas da causa, que estava relacionada aos sentimentos daquele paralítico. É no que sentimos e sustentamos, que ocorre o se fazer carne, o somatizar.


Observem que aquele paralítico não pediu que Jesus o curasse. Em silêncio chegou diante dEle e em silêncio ficou.

A vida culpada, a vida infeliz é em si mesma, um pedido dramático de misericórdia. O próprio silêncio, o não verbalizar daquele homem, já era um pedido.


Como conseguir a solução para a culpa?


A solução encontra-se única e exclusivamente no perdão. O Perdão restaura o que a culpa atrofiou. "Filho as tuas culpas estão perdoadas (...) pega o teu leito e vai para casa."

Ele não andava e voltou a andar. Provavelmente ele não amava e aprendeu a amar. Provavelmente ele não perdoava e aprendeu a perdoar.