quinta-feira, 14 de junho de 2018


O desejo como produção!


O desejo dos idealistas, assim como no mundo psicanalítico cria realidades inalcançáveis e sem movimento no olhar de Giles Deleuze.

O filósofo Schopenhauer compara o desejo a um pêndulo que leva o ser humano à dor e ao tédio. Desejar para ele é sofrer. A vontade é inconstante e insaciável, desejando sempre algo diferente. Nada há que de maneira definida preenche a falta! Não se encontra uma tranquilidade. O Desejo é carência ou tédio! É através da supressão da Vontade , segundo Schopenhauer que o homem encontrará a liberdade.

Para o filósofo Friederich Nietzsche o pensamento de Schopenhauer é uma abordagem niilista. É uma negação. O desejo é algo abundante com exuberância. O desejo não é para ser negado, mas para ser afirmado. Se o desejo é negado, nega-se a própria realidade dele e a sua existência. Desejo para Nietzsche é Vontade de Potência. 
É através da leitura de Nietzsche e Espinosa que Deleuze desenvolve uma concepção do desejo diferente à filosofia idealista de Hegel, à filosofia de Platão, se opondo à  psicanálise tanto de Freud como a de Lacan. O desejo em Deleuze é exaltado, é forte, é o dono de seu próprio nariz porque ele produz, contrariando o pensamento que enquadra o desejo como falta.

Segundo Deleuze e Guattari o desejo jamais foi a presença da falta e sim produção. O desejo dito por Onfray em a Potência de existir é visto não como carência “mas excesso que ameaça transbordar.” Em Diálogos declarou Deleuze:
Desejo: quem, a não ser os padres, gostaria de chamar isso de “falta”? Nietzsche o chamava de "Vontade de potência” 
Espinosa chamava o desejo de "conatus" força constante de afirmação. Só há o real, feito de matéria e átomos, construções moleculares em movimento, afirmou Deleuze. Sendo assim, desejo para o filósofo é produção em constante movimento.

Desejar alguém não é ser atraído por um objeto que esteja fora, no exterior com a promessa de satisfação estática; é ser empurrado por dentro, é mover-se no real. Mas como isso acontece? Não há como explicar como isso ocorre! Definir o desejo é matá-lo, uma palavra e o desejo seria catarzeado. O desejo não deseja ser interpretado. Desejo é para ser experimentado. O desejo revoluciona, logo, o desejo é um revolucionário. Afirmam Deleuze e Guattari em Anti-édipo “O desejo é movimento que faz passar estranhos fluxos que não se deixam armazenar numa ordem estabelecida” O problema de Deleuze com a psicanálise se estabelece quando ele afirma o desejo como algo revolucionário por ser o humano máquina desejante, contrariando o olhar psicanalítico sobre o desejo.


O desejo desde muitos e muito tempos tem sido mal compreendido e moralmente malvisto, por ser interpretado como uma falta incomodativa que aflige a subjetividade humana, tendo, portanto que ser negado. Mas a compreensão que tem o filósofo Giles Deleuze que a falta não é real, mas fabricada pelo poder de dominação. As ideias de Platão, assim como o entendimento cristão de céu ou paraíso, e o idealismo de Hegel, a psicanálise de Freud e Lacan são negações ao desejo como produção, como construção. Tanto o Deleuze quanto Guattari veem na metafísica algo perigoso.  Talvez uma das maiores referências, independente de Nietzsche, que influenciou a filosofia de ambos foi o esquecido Aristipo, devido a sua posição contrária, pois vê no desejo um hedonismo racional que procura o prazer e evita a dor. Não podendo ser esquecido que na filosofia deleuziana o desejo não é falta, mas  produção.


Desejo não é sinônimo de falta na filosofia contemporânea de Giles Deleuze!