quarta-feira, 9 de maio de 2018


O conhecimento, um encontro bipolar!

Fenomenologia


Edmund Husserl (1859 – 1938)

O significado de fenômeno se volta para tudo aquilo que se manifesta no plano da consciência. Tudo que é oriundo de uma experiência sensorial pode ser encarado dentro do universo fenomenológico. A fenomenologia é o método epistemológico que fundou a filosofia contemporânea.
O ponto de partida da fenomenologia está voltado para uma questão muito geral e tratada durante por longos tempos pela filosofia que é a relação entre sujeito e objeto. Uma relação de conhecimento e como se constitui o conhecimento.

Vertentes

Todavia antes de vermos como Husserl apresenta a sua compreensão fenomenológica, devemos atentar, ainda que sistematicamente, como se constituiu na modernidade (1453 -1789) essa abordagem relacionada ao sujeito e ao objeto.  Há três vertentes:

A primeira vertente é a realista. O realista é aquele que sustenta o primado do objeto. O objeto é o  de maior importância. Ou seja, as representações que se faz das coisas está subordinada aos objetos em si mesmos ou as coisas em si mesmas, apreendidas pelos sentidos e depois registradas pelo intelecto.  Sendo assim,  se compreende pela vertente realista que o ponto de partida para aquisição do conhecimento se dá pelo objeto ou as coisas em si mesmas.

A segunda vertente é o idealismo. Já o idealismo se foca na primazia do sujeito, das ideias, da mente. O sujeito é o mais importante, segundo esta vertente, para se adquirir o conhecimento.  Contudo, se observa nesta vertente que um acordo tenta se estabelecer de conformidade entre as ideias e as coisas, entre o objeto e o sujeito, embora sendo tendências que se opõem entre si.

A terceira vertente se manifesta no século XVIII foi à filosofia de Kant. A sua filosofia procurou desfazer o impasse entre o realismo e o idealismo, através do questionamento sobre que tipo de contribuição que o próprio objeto, as próprias coisas dão ao conhecimento e qual é a contribuição que o próprio sujeito colabora com o processo do conhecimento.  Aqui se observa que não se privilegia nem o objeto nem o sujeito, mas que visa buscar o resultado através de numa síntese para aquisição do conhecimento.

Ao considerarmos o viés da correlação, entendemos que não existe objeto que não esteja comprometido com o sujeito que o reconhece ou o representa.  O sujeito é a consciência que apreende o fenômeno, como a realidade que por ele (sujeito) é constituída.  Agora considerando o objeto, ele nada mais é, que esse fenômeno apreendido pela consciência.  Mas o que significa apreender? O que seria o fenômeno apreendido como mecanismo de conhecimento? Se compreendermos essa apreensão como assimilação das coisas pelo sujeito que as percebe, como se essas coisas se transferisse do mundo para a nossa mente o resultado dessa posição seria o desaparecimento do objeto, das coisas, através da incorporação total pelo sujeito. Husserl vai discordar do posicionamento kantiano porque se o objeto for apreendido pelo sujeito ele perderá a sua autonomia.


É necessários voltar às coisas mesmas

A partir das considerações feitas nos parágrafos anteriores que passaremos a entender à abordagem husserliana sobre o seu propósito com a inauguração da fenomenologia ao dizer o seu grande lema “é necessários voltar às coisas mesmas.” Conhecida como redução eidética. A que se considerar a importância das próprias coisas na relação de conhecimento.  A necessidade de se voltar às coisas se dá em razão de se perceber a contaminação das coisas pelo o sujeito.  É como se o sujeito tivesse um poder grandioso sobre o objeto, como se a consciência tivesse um poder tamanho sobre as coisas que nessa assimilação as coisas se adaptariam de tal moldo a consciência que elas não permaneceriam com realidade própria.  O sujeito projeta nas coisas vários componentes quer de ordem lógica, quer de ordem psicológica, etc., toda essa projeção que fazemos no mundo para depois do mundo apreender as coisas, contamina o mundo e contamina as coisas, de tal modo que acabamos recolhendo do mundo as coisas que lá colocamos. A realidade própria das coisas acaba ficando comprometida com essa maneira de conhecer.

Purificação

Husserl vai então tentar instituir um método em que as nossas relações com as coisas se torne mais autêntica, de forma que possamos recuperar a realidade do mundo e a realidade das coisas. Mas como isso seria possível? Através da purificação da relação entre sujeito e objeto. Desfazendo da contaminação do pressuposto vinculado ao próprio sujeito, como se o conhecimento fosse uma competição entre o sujeito e as coisas. Não é nada disso. O que Husserl quer recuperar uma relação mais equilibrada entre essas duas instâncias. Husserl percebe esse equilíbrio já que uma vez purificada a consciência desses pressupostos que comprometem a nossa relação com as coisas, percebe ele então que era uma coisa que deveria ter sido sempre e não de tamanhas contaminações da consciência.

A consciência é sempre consciência de alguma coisa, essa compreensão já nos permite definir o que é consciência. Não temos como definir a consciência fora da relação consciência de alguma coisa. A consciência não seria nada se ela não se apresentasse como consciência de alguma coisa.  A consciência não é uma coisa que se opõe a outras coisas. A consciência de é sempre um modo que o sujeito percebe o mundo e percebe as coisas. A consciência não é uma realidade substancial ela é apenas um movimento de olhar, um olhar intelectual.
As coisa para não se tornarem objetos da consciência é preciso que elas permaneçam com a sua realidade própria, com autonomia própria.

A intencionalidade

A intencionalidade nome fixado por Husserl para significar o modo como a consciência vê as coisas.  A consciência tem intenção com relação às coisas. A consciência as visa, a consciência olha as coisas. Isso é que a constitui. Isso que ela tem como realidade, ou seja, ao olhar as coisas intencionalmente. Quando se diz que a consciência tem a intenção de alguma coisa, não significa que a intenção de, trás a coisa intencionada para a consciência como se apropriando dela.  Não. A coisa intencionada pela consciência permanece fora da consciência. A intenção de, não apreende a coisa. A consciência que se tem da coisa é que ela permanece fora do sujeito.  As duas coisas têm que ter a sua funcionalidade própria: Sujeito e objeto. Cada um na sua. Como a consciência é um ato de ver, ela jamais poderá interferir na autonomia do objeto.  
Já que há sujeito de um lado e objeto de outro, sendo ambos diferentes, não se pode pretender que o sujeito dotado de uma objetividade venha ser comparado as próprias coisas. A natureza do sujeito é diferente.
O fato de se dar ao mundo um caráter inteligível, de se conhecer as coisas, acontece num encontro entre a consciência e o mundo. Entre a consciência e as coisas. Nessa relação bipolarizada que o conhecimento é constituído.  Portanto nem a consciência constitui sozinho o conhecimento, nem as coisas no mundo constitui também. O conhecimento se dá no encontro bipolar.