O conhecimento, um encontro bipolar!
Fenomenologia
Edmund Husserl (1859 – 1938)
O significado de fenômeno se
volta para tudo aquilo que se manifesta no plano da consciência. Tudo que é
oriundo de uma experiência sensorial pode ser encarado dentro do universo
fenomenológico. A fenomenologia é o método epistemológico que fundou a filosofia
contemporânea.
O ponto de partida da
fenomenologia está voltado para uma questão muito geral e tratada durante por
longos tempos pela filosofia que é a relação entre sujeito e objeto. Uma
relação de conhecimento e como se constitui o conhecimento.
Vertentes
Todavia antes de vermos como
Husserl apresenta a sua compreensão fenomenológica, devemos atentar, ainda que sistematicamente,
como se constituiu na modernidade (1453 -1789)
essa abordagem relacionada ao sujeito e ao objeto. Há três vertentes:
A primeira vertente é a realista. O
realista é aquele que sustenta o primado do objeto. O objeto é o de maior importância. Ou seja, as
representações que se faz das coisas está subordinada aos objetos em si mesmos ou
as coisas em si mesmas, apreendidas pelos sentidos e depois registradas pelo
intelecto. Sendo assim, se compreende pela vertente realista que o
ponto de partida para aquisição do conhecimento se dá pelo objeto ou as coisas
em si mesmas.
A segunda vertente é o idealismo.
Já o idealismo se foca na primazia do sujeito, das ideias, da mente. O sujeito é
o mais importante, segundo esta vertente, para se adquirir o conhecimento. Contudo, se observa nesta vertente que um
acordo tenta se estabelecer de conformidade entre as ideias e as coisas, entre
o objeto e o sujeito, embora sendo tendências que se opõem entre si.
A terceira vertente se manifesta no
século XVIII foi à filosofia de Kant. A sua filosofia procurou desfazer o
impasse entre o realismo e o idealismo, através do questionamento sobre que
tipo de contribuição que o próprio objeto, as próprias coisas dão ao
conhecimento e qual é a contribuição que o próprio sujeito colabora com o
processo do conhecimento. Aqui se observa
que não se privilegia nem o objeto nem o sujeito, mas que visa buscar o resultado
através de numa síntese para aquisição do conhecimento.
Ao considerarmos o viés da
correlação, entendemos que não existe objeto que não esteja comprometido com o
sujeito que o reconhece ou o representa. O sujeito é a consciência que apreende o
fenômeno, como a realidade que por ele (sujeito) é constituída. Agora considerando o objeto, ele nada mais é,
que esse fenômeno apreendido pela consciência. Mas o que significa apreender? O que seria o
fenômeno apreendido como mecanismo de conhecimento? Se compreendermos essa apreensão
como assimilação das coisas pelo sujeito que as percebe, como se essas coisas se
transferisse do mundo para a nossa mente o resultado dessa posição seria o
desaparecimento do objeto, das coisas, através da incorporação total pelo
sujeito. Husserl vai discordar do posicionamento kantiano porque se o objeto
for apreendido pelo sujeito ele perderá a sua autonomia.
É necessários voltar às
coisas mesmas
A partir das considerações feitas
nos parágrafos anteriores que passaremos a entender à abordagem husserliana
sobre o seu propósito com a inauguração da fenomenologia ao dizer o seu grande
lema “é necessários voltar às coisas
mesmas.” Conhecida como redução eidética. A que se considerar a importância das
próprias coisas na relação de conhecimento.
A necessidade de se voltar às coisas se dá em razão de se perceber a
contaminação das coisas pelo o sujeito. É
como se o sujeito tivesse um poder grandioso sobre o objeto, como se a
consciência tivesse um poder tamanho sobre as coisas que nessa assimilação as
coisas se adaptariam de tal moldo a consciência que elas não permaneceriam com realidade
própria. O sujeito projeta nas coisas
vários componentes quer de ordem lógica, quer de ordem psicológica, etc., toda
essa projeção que fazemos no mundo para depois do mundo apreender as coisas,
contamina o mundo e contamina as coisas, de tal modo que acabamos recolhendo do
mundo as coisas que lá colocamos. A realidade própria das coisas acaba ficando
comprometida com essa maneira de conhecer.
Purificação
Purificação
Husserl vai então tentar instituir
um método em que as nossas relações com as coisas se torne mais autêntica, de
forma que possamos recuperar a realidade do mundo e a realidade das coisas. Mas como isso seria possível? Através da
purificação da relação entre sujeito e objeto. Desfazendo da contaminação do
pressuposto vinculado ao próprio sujeito, como se o conhecimento fosse uma
competição entre o sujeito e as coisas. Não é nada disso. O que Husserl quer
recuperar uma relação mais equilibrada entre essas duas instâncias. Husserl
percebe esse equilíbrio já que uma vez purificada a consciência desses
pressupostos que comprometem a nossa relação com as coisas, percebe ele então
que era uma coisa que deveria ter sido sempre e não de tamanhas contaminações da
consciência.
A consciência é sempre
consciência de alguma coisa, essa compreensão já nos permite definir o que é
consciência. Não temos como definir a consciência fora da relação consciência
de alguma coisa. A consciência não seria nada se ela não se apresentasse como
consciência de alguma coisa. A consciência
não é uma coisa que se opõe a outras coisas. A consciência de é sempre um modo que o sujeito percebe o mundo e percebe as coisas. A consciência não é uma realidade substancial ela é apenas um
movimento de olhar, um olhar intelectual.
As coisa para não se tornarem objetos
da consciência é preciso que elas permaneçam com a sua realidade própria, com
autonomia própria.
A intencionalidade
A intencionalidade nome fixado
por Husserl para significar o modo como a consciência vê as coisas. A consciência tem intenção com relação às
coisas. A consciência as visa, a consciência olha as coisas. Isso é que a
constitui. Isso que ela tem como realidade, ou seja, ao olhar as coisas
intencionalmente. Quando se diz que a consciência tem a intenção de alguma
coisa, não significa que a intenção de,
trás a coisa intencionada para a consciência como se apropriando dela. Não. A coisa intencionada pela consciência
permanece fora da consciência. A intenção
de, não apreende a coisa. A consciência que se tem da coisa é que ela
permanece fora do sujeito. As duas
coisas têm que ter a sua funcionalidade própria: Sujeito e objeto. Cada um na
sua. Como a consciência é um ato de ver, ela jamais poderá interferir na
autonomia do objeto.
Já que há sujeito de um lado e
objeto de outro, sendo ambos diferentes, não se pode pretender que o sujeito
dotado de uma objetividade venha ser comparado as próprias coisas. A natureza
do sujeito é diferente.
O fato de se dar ao mundo um caráter
inteligível, de se conhecer as coisas, acontece num encontro entre a
consciência e o mundo. Entre a consciência e as coisas. Nessa relação
bipolarizada que o conhecimento é constituído. Portanto nem a consciência constitui sozinho o
conhecimento, nem as coisas no mundo constitui também. O conhecimento se dá no
encontro bipolar.