sábado, 14 de julho de 2012


SOMOS ESCRAVOS DA NOSSA VONTADE










O autor da psicanálise, Sigmund Freud fala de três insultos ao amor do homem o amor narcísico, ou seja, a si mesmo: a primeira está ligada ao nome de Copérnico, um insulto cosmológico. O outro insulto é o biológico ligado ao nome de Darwin e o terceiro insulto é declarado pelo próprio Freud, que resultaria de que os eventos psíquicos em si são inconscientes e só são acessíveis e sujeitos ao eu por meio de uma percepção incompleta e inconfiável. Esse esclarecimento equivaleria à afirmação de que “o eu não é o senhor da sua própria casa”
Em Emanuel Kant, encontramos a seguinte declaração: “Para a liberdade interior se requerem dois itens: ser seu próprio mestre, isto é, ser senhor sobre si mesmo, domar seus afetos e dominar suas paixões. Essa compreensão Kantiana torna-se impossível ao homem. Este não é senhor da sua própria casa, frase atribuída a Freud, todavia, Freud a remete a Schopenhauer. Contudo, o Salmo 19.12 diz: “Quem há que possa discernir as próprias faltas. Absolve-me das que me são ‘inconscientes.’
“Quem poder discernir o seu coração?” Pergunta feita pelo profeta Jeremias (Jr. 17.9). Isso não é possível porque não conhecemos a maêutica socrática intelectual, mas porque não estamos conscientes de nós mesmos por uma incapacidade da vontade.
Se somos escravos da nossa vontade, teríamos livre-arbítrio? Parece que não! Todas as decisões que tomamos são determinadas pela nossa natureza e cultura. Ainda que não percebamos, as nossas decisões estão sempre condicionadas. Até nas coisas mais simples: Quando escolho uma roupa, um sapato, etc., a minha escolha está condicionada a um gosto particular. A escolha foi feita por mim, mas condicionada. Ainda que eu não perceba! Não escolheria um sapato ou uma roupa que não estivesse de acordo comigo. Mas o que estaria por trás da minha escolha? O meu condicionamento que me empurra a decisão. Logo, se sou empurrado sou escravo de mim mesmo do condicionamento que em mim reside.
Quanto as minhas decisões morais ainda que moralmente e eticamente eu possa ser de invejável conduta, todavia, o meu coração me diz ao contrário. Não sou os que os olhos veem. Sou um esconderijo cheio de conflitos, ainda que não aparente, sou o que não se sabe. Sou talvez, um albergue habitado por identidades desconhecidas. Sou os heterônimos de Fernando Pessoa ou o médico e o monstro de  R. L. Stevenson.
A máxima do maior intérprete do Cristianismo, Paulo, foi quando ele  declarou: “O bem que quero fazer não faço mas o mal que não quero estou continuamente fazendo (...) Quem me livrará ‘desse outro’ que habita em mim?” (Rm 7.19ss). Parece que nesta declaração paulina fica evidente a não existência do livre-arbítrio. Fazer o que não se quer em detrimento do que se deseja.