O autor da psicanálise, Sigmund
Freud fala de três insultos ao amor do homem o amor narcísico, ou seja, a
si mesmo: a primeira está ligada ao nome de Copérnico, um insulto cosmológico. O
outro insulto é o biológico ligado ao nome de Darwin e o terceiro insulto é
declarado pelo próprio Freud, que resultaria de que os eventos psíquicos em si
são inconscientes e só são acessíveis e sujeitos ao eu por meio de uma
percepção incompleta e inconfiável. Esse esclarecimento equivaleria à afirmação
de que “o eu não é o senhor da sua própria casa”
Em Emanuel Kant, encontramos a
seguinte declaração: “Para a liberdade interior se requerem dois itens: ser seu
próprio mestre, isto é, ser senhor sobre si mesmo, domar seus afetos e dominar
suas paixões. Essa compreensão Kantiana torna-se impossível ao homem. Este não
é senhor da sua própria casa, frase atribuída a Freud, todavia, Freud a remete
a Schopenhauer. Contudo, o Salmo 19.12 diz: “Quem há que possa discernir as
próprias faltas. Absolve-me das que me são ‘inconscientes.’
“Quem poder discernir o seu coração?”
Pergunta feita pelo profeta Jeremias (Jr. 17.9). Isso não é possível porque não
conhecemos a maêutica socrática intelectual, mas porque não estamos conscientes
de nós mesmos por uma incapacidade da vontade.
Se somos escravos da nossa vontade,
teríamos livre-arbítrio? Parece que não! Todas as decisões que tomamos são
determinadas pela nossa natureza e cultura. Ainda que não percebamos, as nossas
decisões estão sempre condicionadas. Até nas coisas mais simples: Quando escolho
uma roupa, um sapato, etc., a minha escolha está condicionada a um gosto
particular. A escolha foi feita por mim, mas condicionada. Ainda que eu não
perceba! Não escolheria um sapato ou uma roupa que não estivesse de acordo
comigo. Mas o que estaria por trás da minha escolha? O meu condicionamento que
me empurra a decisão. Logo, se sou empurrado sou escravo de mim mesmo do
condicionamento que em mim reside.
Quanto as minhas decisões morais
ainda que moralmente e eticamente eu possa ser de invejável conduta, todavia, o
meu coração me diz ao contrário. Não sou os que os olhos veem. Sou um
esconderijo cheio de conflitos, ainda que não aparente, sou o que não se sabe. Sou
talvez, um albergue habitado por identidades desconhecidas. Sou os heterônimos
de Fernando Pessoa ou o médico e o monstro de R. L. Stevenson.
A máxima do maior intérprete do
Cristianismo, Paulo, foi quando ele declarou: “O bem que quero fazer não faço mas
o mal que não quero estou continuamente fazendo (...) Quem me livrará ‘desse
outro’ que habita em mim?” (Rm 7.19ss). Parece que nesta declaração paulina
fica evidente a não existência do livre-arbítrio. Fazer o que não se quer em
detrimento do que se deseja.