segunda-feira, 21 de maio de 2012

Qual é o meu prazer?





  • Falar de prazer é comentar sobre aquilo que impulsiona a vida à satisfação de desejos. Ainda que os verdadeiros objetos de desejo sejam desconhecidos. Há alguns prazeres que em nível de consciência podemos declarar. Mas vejamos o significa a palavra “prazer”. Ela vem do Latim placere, “ser aprovado, aceito, querido”, como verbo exercendo a função de“aquietar, acalmar”.
    Parece que o prazer tem um efeito ansiolítico, apesar de aquietar, também acalma as tensões quando o desejo é satisfeito. Mas o que é o “desejo”? Este vem do Latim desiderare, “querer intensamente, desejar”, originalmente “aguardar o que as estrelas (destino) trarão”, da expressão de sidus, “o que vem das estrelas”, sendo sidus “astro, estrela,constelação”.
    Qual é o meu prazer? Acredito ser pelo conhecimento, ou o prazer de desejar o que está acima de mim e que me eleva à constelação, num ápice extraordinário de satisfação.
     E se é assim, faço valer as palavras do filósofo grego, Aristóteles que afirmou: “Todos os homens, têm, naturalmente, um impulso [desejo] para adquirir conhecimento”.
    Walt Whitman poeta e jornalista norte americano experimentou um prazer tão grande ao entrar na escola que isto resultou nesse belíssimo poema:

    Ao começar meus estudos
    Me agradou tanto o passo inicial,
    A simples conscientização dos fatos,
    As formas, o poder do movimento,
    O mais pequeno inseto ou animal,
    Os sentidos, o dom de ver, o amor,
    O passo inicial, torno a dizer,
    E me agradou tanto,
    Que não foi fácil seguir adiante,
    Pois eu teria querido ficar ali
    Flanando o tempo todo,
    Cantando aquilo
    Em cânticos extasiados.

    No século XVIII, o filósofo  Emmanuel Kant, escreveu algo incitado pelo modelo racionalista que havia se implantado: Sapere Aude,que quer dizer”ouse saber”. Valorizando o conhecimento como fruto do iluminismo.
    Já o  famoso escritor Machado de Assis que se eternizou em escrever com tanta maestria, dá-nos um exemplo contrário ao que acabamos de ler no seu terceiro livro Papéis Avulsos. Neste, encontra-se um conto intitulado a Teoria do Medalhão onde narra o diálogo de um pai com seu filho que acabou de alcançar a maior idade. O pai diz para o filho ingressar num curso de nível superior, todavia, o mais importante é que o filho fosse um “medalhão”. O filho pergunta ao pai o que é ser um “medalhão”. O pai friamente explica ao filho que ser medalhão é ter aparência de ter conhecimento,um aparente saber. Ele diz ao seu filho que ao ingressar na faculdade não se preocupasse com tirar boas notas para passar, lhe bastariam as mínimas notas. Depois de formado, deveria colocar um anel de doutor e freqüentar sempre bibliotecas, nestas procurasse sempre os Best Sellers, de maneira que todos o vissem com um exemplar na mão, ao mesmo tempo exibindo o seu dedo. Contudo, disse o pai ao seu filho, se alguém viesse falar com ele, deveria dizer que estaria ocupado naquele momento, que teria uma reunião muito importante e que não abrisse a sua boca para falar nada com ninguém, pois o título de nível superior que ele possuía, nunca o tirou da condição de burro, inepto mental, um idiota.
    Este livro foi de grande aceitação no Brasil, pois de maneira visionária, Machado de Assis, assertivamente retratava a realidade epistêmica brasileira.
    Gostaria de reportar-me à área que tenho tido afinidade por alguns anos: a Teologia. Durante esse período como docente, preocupado com a formação de consciência dos alunos, tenho observado, o quanto eles são sofridos por ensinamentos viciados que os “medalhões” os submeteram, assim como todos os de suas igrejas. Não queremos em qualquer hipótese bater nos líderes eclesiásticos das igrejas históricas (também sou Pastor, logo tem a mesma aplicação), mas responsabilizá-los, a estar constantemente se reciclando, estudando e atualizando o conhecimento bíblico-teológico neste século XXI. Tem havido muito inchaço, mas muito pouco conteúdo na formação dos crentes que se reúnem aos domingos ou dias da semana para aprenderem. Nós pastores devemos evitar mensagem de auto ajuda que tem tomado conta dos púlpitos, dando certezas daquilo que é totalmente e categoricamente incerto. Devemos atualizar as mensagens bíblicas para os dias atuais evitando radicalmente essas mensagens triunfalistas, burguesas, dogmáticas e de prosperidade que vão de encontro às verdades bíblicas, (Habacuque 3.17-19). Aqueles membros de pouco recursos financeiros, tem ficado não só empobrecidos na sua realidade econômica, mas desprovidos da riqueza do autêntico conhecimento bíblico.
    É mais do que urgente pregar sobre a dor, sobre conflitos que sempre acontecerão e que nada muda como num passe de mágica. Não é através de confissões positivas que teremos uma igreja abençoada com garantias de que tudo de bom acontecerá. Mas é através da VERDADE bíblica, estudada e bem elaborada a fim de que todos, sem exceção, amadureçam para as realidades que vivemos em qualquer esfera da vida. Jesus usou várias vezes a palavra ENSINO, para subentender que o conhecimento liberta a muitos da ignorância. No livro do profeta Oséias lemos: “O meu povo sofre porque lhe falta conhecimento”. Se falta conhecimento ao povo, a responsabilidade é dos líderes! Acrescento, como uma das coisas mais importantes, que cada indívíduo da membresia deva ter um conhecimento é sobre a natureza humana, a fim de que não se exija de ninguém um conteúdo de perfeição. Que todos se aceitem na condição que estão, com suas tendências e predisposições, pois a realidade daqueles que declaram a sua fé em Jesus já foi definitivamente resolvida como registra Efésios 2:6.
    Sempre preocupado com a desconstrução do imperialismo teológico americano que tem se repetido nas nossas denominações, imperialismo da aparência de muitos que sofrem com a síndrome do “sabe tudo”, imperialismo dos “medalhões”, que arrastam muitos em suas carências afetivas submissos a tais líderes como seres acima do bem e do mal. As chamadas “ovelhas” recebem mensagens entusiastas que ficam somente na esfera epidérmica, causando arrepios (a exemplos também de programas televisivos), mas sem nenhuma mudança no que tange o aprofundamento das escrituras. Mesmo assim, elas (ovelhas) permanecem submetidas sem questionarem nada,emudecidas por tais situações, e as ideias a elas ensinadas, que aparentemente lhes dão razão para viver. A isso damos o nome de onanismo funcional, gerador de prazer e desejo que se repete semanalmente por necessidade de retroalimentação, com intensidade que chega ao esfolamento.
    Lembro-me quando convidado para falar na aula inaugural de um seminário teológico, declarei a importância que há no professor (aplica-se também ao pastor) de não se ver como detentor do saber, mas que o conhecimento deveria ser compartilhado como se fosse um jogo de frescobol. Docente e discente trocando informações na esfera do conhecimento. Como no jogo de frescobol a bola não dever cair, porque o gostoso está no ir e vir, ir e vir, ir e vir, ir e vir sem precocidade. A palavra seminário tem no seu étimo o termo SÊMEN, logo, nesse ir e vir da bola que o seminário acontece dando luz ao conhecimento, quase que numa orgia, todos ao mesmo tempo procurando alcançar o prazer do saber. O objetivo nessa relação interpessoal é a transa que engravida a fim de que novas idéias nasçam sem que o professor tenha pensado. No aprendizado tem de haver humildade. O professor também é um aprendiz. No seminário sabe-se pouquinho e desconhece-se muito. Nessa busca pelo conhecimento um deve satisfazer o desejo do outro. Tudo começa num primeiro encontro, sem que haja evasão para que a ilação da aquisição do conhecimento seja plena, atingindo ápices libidicamente desejáveis.
    O conhecimento tem que ter sabor. Para sabermos o gosto devemos usar o paladar, este tem uma função discriminatória, ou seja, faz a separação entre o que é gostoso, saboroso e não saboroso. O saboroso se come porque é prazeroso. O que não é palatável se descarta, cospe. O conhecimento tem de ser também eucarístico “este é o meu corpo, comei dele todos”. Todos devem ter acesso ao conhecimento que liberta de seus condicionamentos empurrados goela abaixo na história de vida. Condicionamentos culpabilizante e conseqüentemente adoecedores.
    Qual é o meu prazer? Saber que este texto colaborará para o desenvolvimento do senso crítico, daqueles que realmente desejam crescer no conhecimento que liberta das amarras tradicionais e convencionais.
    “Eu vos tirei da terra do Egito e da casa da servidão” (Ex.20.2)
    CARPE DIEM