quinta-feira, 10 de novembro de 2011

AS MOTIVAÇÕES DO CORAÇÃO.

Falar sobre as motivações do coração é tentar explicar as razões das ações humanas em todos os seus aspectos. Entretanto, gostaríamos de mencionar aqui os motivos que socialmente são reprovados, mas que requer que façamos perguntas, tais como: Por que? O que leva alguém agir assim? Não poderia ser diferente? Esses e outros questionamentos invadem a nossa subjetividade e muitas das vezes ficamos sem respostas.

Temos nos deparado com vários comportamentos reprovados na coletividade de humanos, como as personalidades sociopáticas, pedófilas, entre outros comportamentos como o adultério, a prostituição, homicídio, roubo, furto, vício, etc., que algumas ciências que lidam com o psiquismo humano não têm aprofundado, ao que parece, na tentativa de explicar as motivações que estão por detrás de tais ações. Se tudo for resumido em uma só palavra como “pecado”, vale dizer que esse resumo apesar de ser simplista consegue ainda ser simplório não satisfazendo hoje em dia, por ser uma categoria um pouco empobrecida de valor. Essa tem sido a tendência de muitos religiosos, evangélicos entre outros, em julgar, as ações cometidas, de reprovação social, como uma questão tão somente ramartológica (pecaminosa). Contudo, quando nos interessamos em nos vermos e nos internalizarmos, perceberemos que quase todos os qualificativos acima mencionados estão muito presente a nós, de maneira velada e camuflada. Poderíamos lançar mão das escrituras para exemplificar um caso de homicídio sem morte física. “aquele que odeia o seu irmão é homicida como Caim”. Aqui está a subjetividade do crime! Este exemplo visa tão somente nos mostrar a dificuldade que temos em nos relacionarmos com nós mesmos, ao que tange direcionar os nossos olhares para dentro e vermos o quanto temos sido criminosos-homicidas. Assim também, como em outras áreas de desejos da nossa subjetividade, reprimidos que não tem a mesma dimensão de um crime, mas muitas das vezes nos negamos por questão meramente conceitual e de convenções.

Observemos então que na esfera do sentimento que está a nossa verdade, a nossa realidade. Como não aparece somos tendenciosos a julgar, emitir juízo de valor a fatos ocorridos e reprovados por sentimento que mascara a nossa existência neste grande circo social que vivemos. Contudo, não podemos aqui negar o valor do poder judiciário em condenar os crimes praticados, razão porque, ficaria muito difícil viver em sociedade. Todavia, o que queremos aqui considerar são as motivações do coração, evidenciando que não somos diferentes, contudo, habitados por realidades que conhecemos e desconhecemos e muito presente a nós. Somos um albergue, habitados por várias pessoas vindas de tudo quanto é lugar. Somos uma pluralidade a representar papéis diferentes, razão porque não somos uno, mas a encarnação de vários psiquismos teatrais. Neste teatro somente representamos, talvez porque a vida seja viver várias peças teatrais. Em Shakespeare encontramos muitas citações que reforçam esta idéia de que a vida é um teatro. Na peça Como gostais ele diz:

O mundo é um palco, e homens e mulheres,

não mais que meros atores.

Entram e saem de cena e durante a sua vida

não fazem mais do que

desempenhar alguns papéis.

O nosso interior é o script de uma peça. Tenho pensado em fazer um inventário de quantas entidades moram no meu corpo. O apóstolo Paulo percebeu que não estava só, ao dizer que o mal que ele fazia não queria fazer. Freud sugeriu três: id, superego e ego. No livro o médico e o monstro o Dr. Jeckill é o médico bondoso e o Mr. Hide, o monstro. Ambos morando num mesmo lugar. Fernando Pessoa desalojou de dentro dele mais de vinte pessoas, o endemoniado de Gadara disse que era uma legião, ou seja, seis mil pessoas. Interessante nisso tudo, que o corpo não fiscaliza as credenciais dos pretendentes ao albergue, pelo contrário, aceita a todos.

"Não sei quem sou, que alma tenho.

Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.

Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...

Sinto crenças que não tenho.

Enlevam-me ânsias que repudio.

A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta

traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,

nem ela julga que eu tenho.

Sinto-me múltiplo.

Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos

que torcem para reflexões falsas

uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.

Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,

eu sinto-me vários seres.

Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,

como se o meu ser participasse de todos os homens,

incompletamente de cada (?),

por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço."

Fernando Pessoa

Como todo bom analista, poderá ajudar a você fazer um inventário dos habitantes que residem no seu albergue, o que lhe trará uma percepção melhor sobre as confusões no seu corpo.

Parece que diante do exposto devemos ser mais sensíveis para com as motivações do coração, pois este tem razão que a própria razão desconhece, como já dizia Blaise Pascal. Assim como nas outras pessoas, também em nós temos uma família grandiosa vivendo no nosso alojamento subjetivo, várias entidades e identidades diferentes. Logo, devemos evitar fazer qualquer julgamento, pois não temos condições de julgar quem quer que seja, tendo a pessoa feito o que seja, pois com a mesma medida que julgamos seremos julgados, pois nada há no nosso julgamento que nos diferencia do próximo, pelo contrário, só nos evidencia declarando que somos iguais não havendo nada de diferente, a única diferença que uns objetivam os seus atos e outros agasalham ficando na esfera do desejo se amargurando pela não realização. E dependendo do que seja, até somatizam em virtude das interdições da tradição, da formação religiosa, dos princípios normativos rígidos familiar. As motivações do coração nascem em algum lugar ou lugares.

Motivemos o nosso coração para o Carpe diem, ainda que possuídos, sempre estaremos! Não tente se exorcizar, do contrário, você não será vocês! Saiba que vocês é você!