A moral do rebanho e a
moral dos senhores
Nietzsche foi um filósofo alemão
que viveu na metade do século XIX. Ele fez uma critica radical não só a
filosofia que o antecede, mas a toda cultura do mundo ocidental. De acordo com
Nietzsche a realidade é formada por dois grandes princípios: o apolíneo e o dionisíaco. Apolíneo vem do Deus grego Apolo que representa a razão, a retidão, a
ordem, a harmonia e a perfeição que existe no universo. Dionisíaco que vem do
Deus grego, Dionísio que representa a desordem, o caos, a intuição e a
sensibilidade, realidades subjetivas.
Segundo Nietzsche os gregos viviam
repeitando essa composição da realidade. Aproveitando tanto o lado racional,
quanto o lado do emocional e instintivo das expressões humanas. Nietzsche ao olhar para a
filosofia socrática-platônica afirma que esta filosofia fez o de pior que
poderia para o mundo e pensamento ocidental. A filosofia socrática-platônica
deu enorme valor a origem do pensamento apolíneo em detrimento à abordagem dionisíaca.
A filosofia socrática-platônica cria uma filosofia categoricamente racional, ou
seja, totalmente calcada na razão. É importante aqui revermos que na abordagem
apolínea tudo é muito regrado voltado para o que é correto. Aqui, segundo Nietzsche,
o homem é enfraquecido. À abordagem
apolínea faz com que o homem não aproveite tudo àquilo que a vida tem para
oferecer. A razão escraviza o homem. A filosofia socrática-platônica desfaz
também de toda a criatividade que existia na filosofia pré-socrática.
A partir do que acabamos de ver,
Nietzsche vai elaborar a Genealogia da Moral, ou seja, uma investigação
histórica da formação e da construção dos valores que criou a moral no ocidente.
Qual foi a finalidade dele fazer essa investigação? A finalidade foi pautada em
comparações, como por exemplo, se certo e errado são universais ou não. Se bem
ou mal também apresenta as mesmas características de universais ou não. O bem é
absoluto? O mal é absoluto? O certo é absoluto? O errado é absoluto? O que é
justo é absoluto? O que é injusto é absoluto? Esses valores servem para todos
os seres humanos de todas as épocas e de todos os lugares? Nietzsche vai dizer
que não. Ele vai afirmar que isso é uma elaboração, uma construção humana que
em determinado período social os homens criaram valores afirmando que eles são
absolutos. Mas por que será que se crê que esses valores são absolutos em nossos
dias? O cristianismo é o responsável em afirmar que essas criações humanas, a
respeito dos valores, não são humanas, mas de Deus. Ora se os valores são
divinos, logo, são absolutos. Nietzsche
vai discordar por perceber que esses valores são heranças socrática-platônica-aristotélica
que o cristianismo lançou mão. O cristianismo passa a ser uma religião
platonizada. Platão quem escreve os pensamentos de Sócrates e Aristóteles se apoia
na razão socrática com um olhar voltado para apolíneo, tudo muito organizado.
Nietzsche afirma que o
cristianismo não tem nada de absoluto. O cristianismo é uma das interpretações
possíveis do homem no mundo e o seu futuro. O cristianismo é uma ideologia que
ensina o homem ver e encarar a realidade.
No cristianismo Nietzsche percebe
dois tipos de moralidade: A moral dos escravos que é a mesma moral de rebanho e
a moral dos senhores. Essa moral do rebanho é a moral dos ressentidos, dos
fracos que surge em contraposição a moral dos senhores. A moralidade do cristianismo
é a moral do rebanho, dos escravos. Uma moralidade que enfraquece e que
degenera o homem. Uma moralidade fundamentada nos princípios de bondade,
humildade e piedade. Mas isso não deve ser visto como algo bom? A crítica
radical de Nietzsche vê nessas atitudes algo que degenera e deixa o homem
pior.
O que é bom é a moral dos senhores
que é fundamentada na alegria, na invenção para uma vida feliz e na afirmação
da vida. No dizer sim à vida que é contrária a moral do rebanho que nega a vida,
que se martiriza, que se reprime. Uma
moralidade dos perdedores ressentidos com os senhores. O ressentimento desse rebanho
perdedor transformou a bondade, a
humildade e a piedade que são ruins em coisas boas. Essas qualidades foram
colocadas aí para a humanidade, para o mundo ocidental como comportamentos
certos a serem vividos.
Quando Nietzsche coloca esse
pensamento contrário a moralidade do rebanho, na Europa, foi nomeado niilista e
foi acusado de querer acabar com toda a forma de vida social e acabar com a cultura do mundo ocidental. Mas seria isso mesmo? Não. Nietzsche queria na
verdade acabar com esses valores ressentidos de bondade, humildade e piedade. Nietzsche
desejava fazer uma transmutação em tais valores. Fazer uma troca de valores,
pois ele entendia que a bondade, a humildade e a piedade são ruins e degeneram
o homem, tornam o homem fraco e fazem o homem dizer não à vida.
Então Nietzsche vai propor a
criação de um novo ser que não é mais o homem. Esse ser deixou o homem para trás
e esse ser agora é visto por Nietzsche como Além-Homem. Esse Além-Homem é
totalmente fora da moralidade de rebanho e melhor que a moralidade dos
senhores. O estilo de vida passa ser
fundamentado na vontade de poder. Poder aqui, não é poder político, nem de
dominar alguém, mas poder de ser senhor de si mesmo. Este seria o novo ser
proposto por Friedrich Nietzsche.